quinta-feira, 17 de abril de 2014

-O (alcobacense) SECA-ADEGAS. O TOMBO DE SALAZAR E REVIRALHO IRREVERENTE-

 

-O (alcobacense) SECA-ADEGAS.
O TOMBO DE SALAZAR E REVIRALHO IRREVERENTE-

-Fleming de Oliveira-



Por alturas do verão de 1968, um indivíduo dos arredores de Alcobaça, com fama e proveito de grande bebedor de copos de branco, tinto ou bagaço, conhecido como o Seca-Adegas, mas cujo nome de batismo não consegui apurar foi, segundo me contou J. Tempero, encontrado a escrever numa parede junto à Câmara Municipal a seguinte expressão:
Morra Salazar não faz falta à nação.
Detido pelo pressuroso Agente Antunes, foi levado para o Posto da PSP, para ser interrogado se necessário, maciamente, sobre o sentido daquele grafiti.
O Comandante do Posto, deteve-o umas horas e depois interrogou-o, acusando-o de ter escrito umas coisas muito graves, feias e erradas a dizer mal do Senhor Presidente que, lá por estar doente…. (Salazar tinha acabado de cair da cadeira e fora substituído por Marcelo Caetano).
O Seca-Adegas que geralmente etilizado, não era todavia tolo de todo, respondeu que quando estou com os copos, escrevo qualquer m… !!!.
O Agente Antunes levou-o, então, ao local do crime. Aí o Seca-Adegas, percebendo o risco que corria, respondeu que não teve tempo de fazer a pontuação correta, pois o que queria escrever, seria apenas: Morra Salazar? Não! Faz falta à nação.
Perante isto, o homem foi libertado, mas avisado que tão cedo não se metesse noutra, sobe pena de levar uns safanões.

Salazar já não mandava, iniciava-se um outro ciclo, o que levava também a oposição e ensaiar iniciativas ou comportamentos, doutro modo impensáveis.
Segundo me contou um amigo, num jantar da oposição de Alcobaça, por alturas de setembro ou Outubro de 1968, foram cantadas ou declamadas as seguintes rimas, por alguns mais irreverentes :
Um dia em Jerusalém,//Alguém por bem,//Ao mundo veio dar luz,//Foi ela a Virgem Maria,//Que numa gruta paria //O Salvador Bom Jesus.//Também um dia,// Em Tondela, //Outra santa, como ela,//Que foi santa em Comba Dão,// Essa pariu numa gruta,//O maior filho da p…//Que veio lixar a nação.

O telejornal, ou melhor, a informação da RTP passou praticamente ao lado de dois acontecimentos da maior repercussão internacional, em 1968. O Maio de Paris, onde o levantamento estudantil deixou a França quase em estado de sítio, em profunda agitação, o que levou De Gaulle a precaver-se, e que lançou sementes que germinariam por toda a Europa. E em Praga, onde uma breve esperança de Primavera morreu no mês de agosto, frente às forças do Pacto de Varsóvia.
No pequeno cenário interno, um acontecimento imprevisto viria a influenciar de modo determinante a vida do País.
A 7 de setembro, foi noticiado o acidente de Salazar, depois a operação a que foi sujeito no Hospital da Cruz Vermelha, bem como o cortejo de personalidades que passavam pelo átrio do hospital e que lá se queriam fazer mostrar, tal como as respetivas declarações. Quando já parecia não ser de esperar (de acordo com os otimistas mais duros) a recaída do Chefe, a passagem a um estado muito grave, obrigou ao seu afastamento das responsabilidades governativas.
Os portugueses perceberam que se estava perante o fecho de um ciclo. Puderam confirmá-lo ao verem pela RTP, Américo Tomás exonerar Oliveira Salazar e nomear para o seu lugar Marcelo Caetano. Salazar havia-se deixado aprisionar pela sua rede e sede de poder.
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE SALAZAR, CAETANO E OUTROS


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