-A (antiga) ORQUESTRA TÍPICA E CORAL DE
ALCOBAÇA.
-SUBSÍDIOS PARA A SUA (GRANDIOSA)
HISTÓRIA.
-ANTÓNIO GAVINO, BELO MARQUES, SILVA
TAVARES E MARIA DE LURDES
RESENDE.
-QUEM PASSA POR ALCOBAÇA...
-XIX CONGRESSO da UNIÃO INTERNACIONAL
dos ADVOGADOS (Lisboa-ALCOBAÇA-1962)-.
Fleming de OliveiRa
A
ideia da criar uma Orquestra Típica em Alcobaça, segundo reza a história (ou a
lenda), nasceu numa noite de maio de 1956, quando veio atuar à vila, a
Orquestra Típica e Coral de Rio Maior.
Foi
tal o interesse suscitado pelo espetáculo que, conforme decorre de uma nota d’O
Alcoa (15 de agosto de 1963), de imediato Couto
de Pinho iniciou diligências com vista a organizar uma semelhante entre nós.
Pedindo para vir a Alcobaça, o Maestro António Gavino que, já havia criado
agrupamentos semelhantes em Santarém e Rio Maior, foi no dia 11 de Novembro de
1956, que se sentam na última mesa, do lado esquerdo de quem entra no café
Trindade-além de Couto Pinho e do Maestro António Gavino, os alcobacenses Tomás
Correia, Fernando Zeferino, Leite Rodrigues e Francisco André, os homens a quem
a nossa vila ficará a dever a criação da Orquestra Típica de Alcobaça.
Foi
esse, o momento tido como fundador do agrupamento, que veio estar na base duma
obra e organização, que atingiu
rapidamente altos e incomparáveis momentos.
Efetuadas nos dois dias seguintes, as
diligências necessárias, à força de uma atividade exemplar, reuniram-se os
primeiros vinte e três elementos, na sede do Rancho do Alcoa, cedida por
especial deferência da Exmª. Direção e o maestro Gavino que, para isso se
fizera acompanhar de dois violões baixos, da Orquestra de Rio Maior, conseguiu
a inacreditável proeza, nesse mesmo ensaio, embora com as naturais deficiências
e perante a admiração e a alegria de todos os presentes, da execução de um
número completo. Era a prova evidente, da possibilidade da realização do sonho
grande!
António
Gavino, daqui em diante, passou a ensaiar a Orquestra Típica (O.T.), duas vezes
por semana, na sala do Rancho O Alcoa ou na sede da Banda, sem receber
honorários, deslocando-se expressamente de Rio Maior, aonde vivia, utilizando
mesmo camionetas de carga, para não sobrecarregar a coletividade.
Aliás,
as primeiras despesas, foram suportadas pelo bolso dos fundadores, os que
naquela tarde de 11 de novembro, se sentaram à mesa do café.
No Cine-teatro
de Alcobaça (1 de maio de 1957, pelas 22h), encontrando-se o Círculo
Alcobacense de Arte e Cultura/C.A.A.C. ainda em formação, realizou-se o sarau,
para maiores de 12 anos, da primeira apresentação da O.T., perante um público
que o enchia totalmente. Marcaram presença os locutores escalabitanos Joaquim
Campos, Carlos Mendes e Neto de Almeida, que recitaram poemas. Nessa ocasião
participaram artistas profissionais, como Maria Lemos e amadores como Maria de
Lurdes Feliciana (de Rio Maior), Olegário do Nascimento e Valdemar do
Nascimento. De acordo com os propósitos dados a conhecer pelo Círculo
Alcobacense de Arte e Cultura/C.A.A.C., este acontecimento inseria-se no intuito de dar a conhecer aos seus
conterrâneos os fins para que foi criado e ainda no de prestar assistência ao
Hospital da Misericórdia desta vila e obter alguns fundos para a sua
organização.
Os
bilhetes (camarotes, frisas, 1ª, 2ª, 3ª e 4ª plateia, 1º e 2º balcão)
encontravam-se à venda no estabelecimento comercial de João Rodrigues Leitão.
Segundo
O Alcoa, havia lágrimas nos olhos dos que
cansados haviam dado tudo para que a nossa Orquestra Típica fosse a realidade
presente e também nos olhos de quantos se recordavam, ainda da Alcobaça de
sempre: Alcobaça da sua Banda, da sua Fanfarra, da Tuna dos Caixeiros, da
Orquestra de Salão (que não era de dança e de que fizeram parte, entre
outros, Mercedes Campião ao piano, e Joaquim Calçada ao rabecão, como lembra
José A. Crespo).
Neste
sarau, também esteve presente o Grupo Infantil de Fandanguistas de Santarém,
sob a direção de Celestino Graça. Os contactos estreitos, entre Celestino Graça
e a O.T. vinham das boas relações que mantinha com António Gavino, e que
perduraram mesmo depois de este ter deixado de ser regente.
Silva
Tavares teve uma chamada especial ao palco, sendo ovacionado pelo público que
em pé, lhe quis tributar o agradecimento pelo que já tinha feito em prol da
terra.
Todavia,
segundo o jornal O Século, de 4 de maio de 1957, (socorrendo-se o articulista
não sabemos de que fonte) não podemos
deixar de fazer o nosso reparo aos obstáculos que são criados em Alcobaça às
iniciativas de carácter artístico, e que afinal partem de pessoas que tudo
deviam fazer para o evitar.
O
jornal O Comércio do Porto (9 de maio de 1957), deu destaque a esta apresentação,
preferindo salientar o jovem e dinâmico
alcobacense José do Couto Pinho pela criação do Círculo Alcobacense de Arte e
Cultura.
Muita
gente desconhece que, além da célebre Canção de Alcobaça, existe uma outra, com
o nome de Velha Alcobaça, também da autoria de Silva Tavares e Belo Marques,
destinada a homem (tenor). Sendo bastante difícil, foi algumas vezes
interpretada por José António, Fernando Serafim e outros artistas. Esta música,
que nunca teve a divulgação da Canção de Alcobaça, dadas as características
menos populares, foi, interpretada na festa de homenagem, realizada em
Alcobaça, a Maria de Lurdes Resende. José António Crespo forneceu-nos a sua
letra:
Na pedra branca esculpida// Do Mosteiro de
Alcobaça// Vive a beleza e a vida// Da História da nossa raça.
E na pedra rendilhada// Desse tão velho
Mosteiro,// Vive a obra agigantada// De D. Afonso I.
Tens velha Alcobaça// Um altar
resplandecente,// Um padrão de raça// Para mostrares a toda a gente//Tens p’ra
seres mais bela// Um sorriso p’ra quem passa.
Os anos passam correndo// Sobre esta Terra
feliz,// E a Terra lá está dizendo//Aquilo que a história diz.
E p’ra ser bem Português// É sacrário esse
Mosteiro// Dos amores da linda Inês// E de D. Pedro I.
Angariados
os primeiros sócios, começou aos poucos a montar-se a estrutura do Círculo
Alcobacense de Arte e Cultura/C.A.A.C..
A
primeira Direção foi composta pelo Eng. João de Sousa Brito, Camilo Marques
Bento, José Sineiro Canha e Fernando Manuel Zeferino.
Em 4
de agosto seguinte, a O.T. foi atuar em Ourém, na Praça Mouzinho de
Albuquerque, nas festas em honra de Nª. Srª. da Piedade e Stº. António, num
espetáculo que se prolongou por duas horas e constituiu um êxito, que o
numeroso público presente, premiou com grande ovação. O jornal NOTÍCIAS DE
OURÉM, de 11 de Agosto, destacou a
Orquestra Típica de Alcobaça, organização recente, mas que já se afirma
brilhantíssima e de grandes possibilidades futuras.
Nesse
mesmo ano, em Setembro, a O. T. também se apresentou pela primeira vez em
Leiria, e no recinto da verbena popular do Orfeão. Na segunda parte deste
sarau, participaram Anita Guerreiro, Margarida Amaral e Pedro Solnado, artistas
muito populares e conhecidos da rádio. O jornal de Leiria O Mensageiro (7 de setembro),
conferiu destaque a esta deslocação e começou a notícia ao referir as primeiras
palavras que Miguel Elias, Presidente da Direção do Orfeão proferiu quando, em
nome da Direção, agradeceu a preciosíssima
colaboração da jovem, mas já grande, Orquestra Típica de Alcobaça: Alcobaça,
aquela Vila Sempre Nobre e Amiga.
Dias
depois, a 10 desse mês, a O.T. deslocou-se a S. Martinho do Porto, num sarau a
favor Colónia Balnear Infantil, a construir pelo Centro de Assistência da
Vestiaria, em que participaram Maria de Lurdes Resende, que interpretou, aliás
pela primeira vez, a Canção de S. Martinho, com letra de Silva Tavares e música
de António Gavino, Maria de Lurdes Feliciano, Valdemar do Nascimento e Olegário
do Nascimento. Esta canção hoje em dia está esquecida, mas graças a José
António Crespo vamos recordar a sua letra:
Numa curva do caminho// De
Alcobaça-Alfeizerão,// Surge ao longe S. Martinho// Qual fantástica visão.
E, a quem de longe passa// Nunca mais sai da
lembrança// S. Martinho e a sua graça// De brinquedo de criança.
ESTRIBILHO
Como filtrado por um véu// De tule,// O sol
que seduz// Tomba do Céu.// E num afago// Enche de luz// A linda concha azul//
Onde um mar parece um lago.
E, do Facho, São Martinho// Não tem rival//
É, a todos, o brinquinho// Das praias de Portugal.
S. Martinho, os teus encantos//Não se podem
descrever// Pois, são tantos, tantos, tantos
// Que é melhor ver para crer.
ESTRIBILHO
(…)
O
médico Rafael Gagliardini Graça, Presidente da Junta de Turismo, proferiu
palavras de agradecimento a Silva Tavares, que foi chamado ao palco.
Ainda
em 23 de setembro (uma segunda-feira), a O.T. deslocou-se a Óbidos, para se
exibir numas festas a favor da Santa Casa da Misericórdia, e num sarau em que
consigo e alternadamente participaram Vasco Santana, Maria Helena Matos e
marido Henrique Santana, com números de sucesso de revista do Parque Mayer,
como O Doente, A Ameaça, A Sonâmbula e O Exame do Meu Menino.
A 20
de novembro (quarta-feira) pelas 21,30h realizou-se no Cine-teatro de Alcobaça
com a lotação esgotada há muito, estando presentes as figuras mais
representativas de vila, uma homenagem a Maria de Lurdes Resende, num magnífico espetáculo com a colaboração da
Rainha da Rádio Portuguesa e genial intérprete da Canção Alcobaça, Maria de
Lurdes Resende, a simpática artista que no País e no Estrangeiro com a sua voz
de sonho, tão alto tem elevado o nome e a graça da nossa terra. Maria de
Lurdes Resende cantou acompanhada à guitarra e viola, pelos seus acompanhadores privativos todas as
músicas do seu repertório, que o público lhe pediu. Por sua vez, a OT
apresentou números de expressiva riqueza
folclórica em primeira audição a
comprovar a inspiração deste grande maestro (António Gavino). Terminado o
espetáculo, foi servido um copo-de-água, no Centro Social da Vestiaria, a que
assistiram Joaquim Carvalho (Presidente da Câmara), o Engº Sousa Brito (Diretor
da Escola Técnica) e o Pe João de Sousa que, aos brindes agradeceram e elogiaram a atuação de todos os artistas.
Na
noite de 6 de dezembro, a O.T. apresentou-se em Caldas da Rainha, no Teatro
Pinheiro Chagas, conjuntamente com artistas da E.N. como Margarida Amaral, a
intérprete da Canção das Caldas, da autoria de Nóbrega e Sousa, Fernando Lá da
Rua e Américo Lima. O C.A.A.C. continuava a organizar-se e assim, em 23 de dezembro,
na sala de ensaios, reuniu-se a sua Assembleia Geral para apreciação e
aprovação das contas, bem como a eleição dos respetivos corpos diretivos, que
ficaram assim constituídos: Assembleia Geral: Presidente-Joaquim Augusto de
Carvalho; Vice-Presidente-Pe. João de Sousa; Secretários-João Telmo Carvalho e
Maia, e Raul Gameiro. Conselho Fiscal: Presidente-Francisco
Trindade Rodrigues; Vice-Presidente-Filipe Lopes Ramos; Secretário-Afonso da
Cruz Franco. Direção: Presidente-Engº
Sousa e Brito; Secretário-Abel dos Santos; Tesoureiro-Camilo Marques Bento.
Nessa Assembleia foi ainda eleito sócio de mérito, por aclamação, José Couto
Pinho.
O
C.A.A.C. foi oficialmente criado por Alvará do Governo Civil de Leiria, datado
de 5 de Agosto de 1957, sendo a sede inicial uma dependência da casa do Dr.
José Nascimento e Sousa, que a cedeu gratuitamente.
Em
1959, transferiu-se para a Rua Alexandre Herculano, após se ter fundido com
Associação Recreativa Alcobacense.
Legalizada
a associação e dispondo de estatutos, passou a haver possibilidade de apelar a
ajudas oficiais, nomeadamente da Câmara Municipal. A O.T. foi apenas no papel,
uma secção de cultura e recreio dentro do C.A.A.C., mas que veio a atingir
maior notoriedade, do que a associação mãe. De facto, a O.T. que absorvia por
completo, as atenções da Direção do C.A.A.C., começou a percorrer o país de
norte a sul, exibindo-se em localidades como a Batalha, Leiria, S. Martinho do
Porto, Óbidos, Caldas da Rainha, Valado de Frades, Nazaré, Mira de Aire, Torres
Novas, Santarém, Bombarral, Caxias (Reformatório), Montes, Maiorga, Estremoz,
Beja e Lisboa.
O
grupo coral apenas surgiu em 1958, tendo sido fator de valorização dos
componentes e de grande influência na aceitação do público. Antes de haver o
grupo coral, a O.T. atuava com alguns solistas convidados, como Maria de Lurdes
Feliciano, que vinha de Rio Maior ou Olegário de Nascimento (Alcobaça). No
tempo de António Gavino, as apresentações tinham normalmente a colaboração dos
locutores, Carlos Mendes e Neto de Almeida, seus amigos pessoais, que
graciosamente vinham fazer a locução e uma maneira própria de lhes dar início,
como Maria Luísa Dionísio recorda. A O.T. começava por interpretar a Canção de
Alcobaça, enquanto ambos, em fundo, recitavam um poema de Silva Tavares
dedicado a Alcobaça, poema esse que anos mais tarde foi dedicado pelo autor à
memória do Dr. José Nascimento e Sousa.
Quando
a O.T.C. começou fazer atuações fora de Alcobaça, ainda não tinha um
estandarte, tal como era costume nos agrupamentos semelhantes. Aliás, era uso
também, que a entidade que convidava oferecesse, durante uma pausa no espetáculo,
uma fita para colocar no estandarte, alusiva à sua presença. Para colmatar a
falta, Maria de Lurdes de Jesus, resolveu com o acordo da direção e do grupo,
solicitar a senhoras de Alcobaça donativos, para comprar o necessário para se
fazer o estandarte. Este foi feito em cetim branco, bordado esmeradamente por
Maria Luísa Pestana, com elementos que correspondem a uma decomposição do
emblema do C.A.A.C..
A
partir daqui a O.T.C. nunca mais saiu sem o estandarte, que passou a colecionar
um número importante e significativo de fitas. O estandarte, extinto grupo, foi
guardado pela Junta Freguesia de Alcobaça.
Segundo
Maria Luísa Dionísio, quando o grupo saía, era por vezes difícil arranjar
assegurar o número suficiente de componentes, de modo a não ocorrem
desequilíbrios.
Esta
recorda, que num espetáculo realizado em Beja, num dia de muito calor e vento,
tiveram que sair de Alcobaça com bastante antecedência em duas camionetes, pois
o percurso demorava várias horas. A certa altura do percurso, Maria Luísa e
demais ocupantes, viram passar uma grande sombra por cima da camionete. Os que
deram conta perguntaram ansiosos ao motorista o que estava acontecer, tanto
mais que seguiu um barulho forte e estranho. Parado o autocarro, constatou-se
que se tinha solto e perdido parte do estrado, encontrado disperso pela
estrada, destruído e sem hipóteses de conserto. No espetáculo dessa noite,
mesmo sem estrado, a O.T.C. atuou com sucesso embora com os elementos algo
desalinhados, uns mais altos e outros mais baixos.
A 26
de Maio de 1958, a
O.T.C. deu um espetáculo comemorativo
do seu primeiro aniversário, no qual se usaram pela primeira vez os seus
trajes, e participaram Maria de Lurdes Resende que cantou com a orquestra, bem
como acompanhada pelos seus guitarristas privativos (Liberto Conde e Francisco
Perez), e ainda o Trio Ribalta, composto de harmónicas vocais, com provas dadas
na RTP.
A
convite do Círculo Cultural Scalabitano, a O.T. deslocou-se a Santarém no dia
10 de Janeiro de 1959. Respigando a encomiástica notícia do Jornal do Ribatejo
(5 de Fevereiro seguinte), sabemos que esteve presente numerosa assistência, e
que (…) após a execução do apontamento
musical de abertura e as palavras de apresentação do conhecido amador sr. Nuno
Neto de Almeida, em cena aberta, o sr. Dr. Ginestal Machado saudou os
visitantes, lembrando a ação de António Gavino, como primeiro regente e
componente do grupo de fundadores da Orquestra Típica Scalabitana, a visita
desta orquestra e do Orfeão Scalabitano à Nobre Vila do Alcoa, oferecendo
lembranças à Direção do Círculo Alcobacense de Arte e Cultura, ao regente
António Gavino e à vocalista Lurdes Feliciano. O sr. Mário Rodrigues, como diretor
e componente da nossa Orquestra Típica, ofertou o característico barrete verde
ribatejano ao sr. Fernando Miranda, o mais velho dos elementos do agrupamento
alcobacense. (…)
A O.T.
atuou nas duas partes do espetáculo, com um pequeno intervalo. O apresentador,
soube cativar a assistência, que aliás não regateou aplausos à O.T., que teve
de bisar alguns números, no meio de um
entusiasmo que atingiu quase o aspeto apoteótico. O articulista do Jornal
do Ribatejo (Carlos Oliveira), avaliando o desempenho da O.T. afirma que (…) se apresentou bastante equilibrada,
revelando grande disciplina e completo domínio diretivo do seu regente, sabendo
dar-nos música verdadeiramente regionalista, sem exageros ou pretensões de
grande execução.(…) Mas lastimou
que o traje da O.T., um pouco triste, à
moda serrana da região de Alcobaça, não possa dar-nos uma garrida e gritante mancha
de cor e alegria como o da nossa Orquestra Típica. Depois do espetáculo
seguiu-se uma ceia, tendo usado da palavra o Dr. Ginestal Machado e Belo
Marques, que trocaram efusivas saudações e comprometeram-se a novas
colaborações, como veio efetivamente a acontecer.
A 4 de
julho de 1959, a
O.T. deslocou-se ao Pavilhão dos Desportos-Lisboa, para atuar num Serão para
Trabalhadores, organizado pela E.N. em colaboração com a Fundação Nacional para
a Alegria no Trabalho (FNAT). A O.T. estava imparável e, em 21 de Maio do ano
seguinte, na comemoração do terceiro aniversário do C.A.A.C., realizou-se um
sarau no Cine-teatro de Alcobaça, em que se apresentou pela primeira vez em
público, o Grupo de Cantares Folclóricos (nome que também assumia e antecedeu o
do grupo coral), pois o C.A.A.C. na ânsia
de atingir os fins que se propôs realizar, não se poupa a esforços na criação
de novos agrupamentos que honrem as tradições da nossa terra.
Colaboraram
no sarau e em primeira apresentação, o grupo de Jograis de Santarém, constituído
por Carlos Mendes, Nuno Neto de Almeida, António Cacho e Vergílio Barreira. A
imprensa local (O Alcoa, de 28 de
Junho de 1960) e a regional, muito concretamente o Região de Leiria, no seu
número de 26 de Maio de 1960, deu grande destaque a este espetáculo chamando a
atenção para a necessidade de os
alcobacenses que ainda não são sócios do Círculo, se inscrevam como tal, dando
desse modo o seu apoio moral e material a uma coletividade cultural que nos
deve merecer o maior interesse e cujo progresso depende, como é óbvio, do
auxílio que lhe possamos prestar. Como solistas apresentaram-se Lurdes
Feliciano, com a graça e à vontade
habitual, bem como pela primeira vez Fátima Modesto e Gilberto M. Coutinho,
que prometem enriquecer a orquestra com
bom canto, pois possuem bom timbre e modelação de voz, mas acusam ainda o
receio de enfrentar a plateia.
A OTC
foi convidada a participar em 2 de outubro de 1960, no espetáculo de
inauguração do 1º Festival-Exposição do Vinho Português, do Bombarral, no
Teatro Eduardo Brasão.
O
Maestro António Gavino deu o seu último espetáculo como regente da O.T., em 25
de Março de 1961, no Cine-teatro de Alcobaça, pois foi viver por razões
profissionais, para Lourenço Marques, isto é, para reger a Orquestra do Rádio
Club de Lourenço Marques. Foi esta rádio que lançou a cançonetista e fadista
Alexandra (que trabalha bastante com La Feria). Colaborou neste espetáculo
(desta vez para maiores de 6 anos…) o Grupo de Jograis de Santarém. A Gavino
sucedeu o Maestro Alves Coelho (Filho) que conferiu ao agrupamento um
dinamismo, eventualmente maior, e a consagração nacional. De acordo com o
jornal O Alcoa, de 11 de novembro de 1961, perdurará
na memória de todos os que tiveram a felicidade de assistir ao 1.º Recital da
Orquestra Típica de Alcobaça, sob a regência do maestro Alves Coelho (Filho), o
memorável espetáculo realizado no Cine-teatro de Alcobaça, no sábado, 4 de novembro
de 1961. Nele colaboraram, além da Orquestra e Coral, os artistas Gina Maria,
Madalena Iglésias Maria Cândida, Maria do Espírito Santo, Artur Garcia e o
locutor Henrique Mendes, nomes consagrados da Rádio e Televisão. Foi num
ambiente de grande entusiasmo, com a sala tipicamente decorada com chitas de
Alcobaça e superlotada, que as palmas e bravos se sucederam a premiar o alto
nível atingido pela música popular portuguesa, o estilo e a personalidade de
vozes, tão conhecidas e queridas do povo alcobacense, apresentadas, com humor e
espírito, por um dos nossos melhores locutores (…).
A
assistir ao espetáculo e a associar-se, com a sua amizade a Alcobaça, estiveram
Silva Tavares e esposa, Dª. Albertina Tavares.
De
acordo com O Alcoa, perante a
impossibilidade de transcrever um programa com números de grande execução,
arranjo e valor artístico, sem nos repetirmos no elogio merecido, só nos resta
felicitar o maestro Alves Coelho (Filho) (…). Na regência foi impecável e
no arranjo das músicas e distribuição dos naipes, teve alta inspiração
artística. Como executante, em colaboração com sua Esposa, Srª. D. Graciete de
Vasconcelos, que é uma notável acordeonista, deu-nos uma seleção da opereta
Viúva Alegre, muito original e de forte motivação (…).
Terminado
o espetáculo, foi oferecida uma ceia, na Pensão Restaurante Corações Unidos,
aos artistas e componentes da O.T.C. Aos brindes falaram o Dr. Amílcar de
Magalhães, Maestro Alves Coelho (Filho), Joaquim Augusto de Carvalho, e a
fechar, para agradecer as homenagens prestadas, Silva Tavares, o autor da letra
da Canção de Alcobaça.
Dias
depois, isto é, a 16 de dezembro, perante o sucesso que foi a apresentação do
dia 4, realizou-se mais um recital, referente a 2ª. Apresentação nesta Vila da Orquestra Típica sob a regência do
Maestro Alves Coelho (Filho). A primeira e segunda partes foram preenchidas
com a exibição da O.T.C. e a terceira com a
colaboração graciosa de consagrados artistas da rádio e da televisão.
A
partir daqui, a O.T.C. passou a colaborar assiduamente com a E.N., nos Serões
para Trabalhadores transmitidos em direto, a realizar espetáculos na RTP, aonde
se deslocou, pela primeira vez, a 14 de maio de 1961, e mais quatro vezes no
ano seguinte, e a fazer gravações de discos.
Uma solista, voz feminina, agradável e bem
timbrada, num rosto bonito emoldurado por um chapéu de abas típico, um lenço
tombado sobre os ombros, cheio de graciosidade, iniciava o espetáculo a cantar,
Os provérbios e rifões//enraizados na nossa
raça,//atravessam gerações//na linda loiça de Alcobaça.
O
coro, respondia:
Alcobaça,//podes crer que tenho apreço,
//por tudo quanto é progresso //mas o antigo não passa.
Alcobaça,//nesse teu Mosteiro velho//bem
velhinho, existe um espelho//do valor da nossa raça.
Foi
com um grupo de canções de carácter regionalista, o seu repertório, que a O.T.C.
constituiu o programa no TV-Clube, da RTP, com a alegada intenção de levar até aos nossos espectadores um
conjunto de bom nível e oferecer-lhes um programa variado, aliciante, de características
diferentes, muito próprias.
Maria
Luísa e Rosa Maria Coelho recordam-se da afabilidade e o dinamismo de Alves
Coelho (Filho), que por vezes se exprimia de forma temperamental, que não era
mais que fruto da ansiedade de obter bons resultados. Alves Coelho (Filho) e
mulher foram, aliás, padrinhos de casamento de Maria da Graça Coelho, irmã de
Rosa Maria, casamento que teve de ser adiado pelo facto de a O.T.C. ter nesse
dia um compromisso com a RTP, transmitido em direto. O Maestro não podia faltar.
Belo
Marques, que muitas vezes colaborou com a O.T. tinha ascendentes na Batalha, os
avós por parte da mãe. Estes eram os portageiros na ponte velha, onde passava a
antiga EN 1. Segundo, Belo Marques contou a Maria Luísa Dionísio, a sua mãe que
se encontrava grávida, numa visita que fez aos pais, que viviam na dita ponte,
acabou por dar ali á luz. Belo Marques, portanto, nasceu na ponte da Batalha.
Era
tanto o entusiasmo do Maestro Alves Coelho (Filho) que, grande parte dos
contactos com vista a realizarem-se espetáculos, eram da sua iniciativa. A
esposa, D. Graciete, que tinha curso superior do Conservatório, como dissemos,
tocava acordeão na Orquestra. O trabalho dos ensaios era muitas vezes repartido
pelo casal, a esposa a ensaiar o coral, o marido a orquestra, até se poderem
juntar no final. Alves Coelho (Filho) e mulher vinham de verão ou inverno, com
bom ou mau tempo, duas vezes por semana de Lisboa, aonde regressavam terminado
o ensaio, pois só raramente ficavam em Alcobaça a dormir, nesse caso em casa de
elementos do grupo.
Maria
Luísa, como solista, primeiro soprano, e filha de um Diretor, sentia que tinha
algumas obrigações especiais, não direitos, como preparar e manter a voz em bom
nível, a qual tanto quando se recorda nunca lhe falhou, em nenhuma
apresentação. Figura de destaque no grupo coral, nele entrou com 18 anos, numa
altura em que já trabalhava em Alcobaça como empregada de balcão. Contando
consigo, houve um período em que, no grupo coral, havia nada menos que 12
meninas Marias!!!. Ao mesmo tempo, assegurava a boa apresentação do estandarte,
bem como a das camisas e fardas dos instrumentistas.
Quando
os espetáculos se realizavam em Alcobaça, tinha também como Rosa Maria Coelho e
outros, a tarefa de coordenar o arranjo da sala, de modo a não haver repetições
na decoração, não obstante ser quase sempre inspirada nas chitas tradicionais
(nesse tempo as chitas de Alcobaça ainda não eram feitas no Oriente). Nnum espetáculo
realizado por alturas de Maio foi decidido, para variar, fazer uma decoração à
base de cestos em palha, os quais foram decorados com giestas apanhadas na
serra. Maria Luísa Dionísio gosta de recordar, um espetáculo realizado no
Cine-Teatro que coincidiu com o seu dia de aniversário, pelo que para não
perturbar e distrair os demais elementos ou o Maestro, resolveu não dizer nada
a ninguém. Antes do espetáculo, Alves Coelho foi jantar a casa de seus pais,
mas com a preocupação de ter tudo em condições para a noite, apenas no dia
seguinte os lembrou do aniversário.
O
número de elementos que compunham a O.T.C, era de 60, distribuídos igualmente
entre a parte coral e a orquestra. Em breve, começou a colaborar com a O.T., o
que muito a valorizou, o músico alcobacense António Jorge Moreira Serafim,
excelente intérprete de oboé, que vivia em Lisboa, irmão do tenor Fernando
Serafim, da Companhia Nacional de Ópera. António Serafim, era primeiro oboé na
Orquestra Sinfónica Nacional, na Orquestra Gulbenkian e ainda na Banda da Força
Aérea. Na O.T.C, como os demais atuava graciosamente, deslocando-se como qualquer
outro aos ensaios, e quando necessário era substituído por Leal Calqueiro, do
Seixal. Na O.T.C. ninguém ganhava nada. Os aplausos, uma ceia ou um ramo de
flores, a saída em passeio, eram suficientes, como recompensa. Porém, caso
faltasse na orquestra algum elemento importante para um espetáculo de
responsabilidade, era necessário contratar um profissional a Lisboa.
Todos
os seus componentes amadores, sacrificavam-se para ocorrer às exigências da
coletividade, em prejuízo dos seus próprios interesses e eram residentes na
zona de Alcobaça, com a exceção do referido António Serafim.
Muita
gente (pelo menos os mais idosos) ainda recorda o flautista António Bolola, da Maiorga, personalidade
estimada, modesto e jovial, mas que tinha por vezes dificuldade em encontrar o
caminho de casa depois de uma ceia mais regada….
A
parte instrumental da O.T.C., era composta por 8 bandolins, 4 guitarras, 6
violas, 1 flauta, 1 oboé, 3 clarinetes, 2 violões, 2 bandoletas, 2 acordeões e
1 bateria. O baterista de que Maria Luísa bem se recorda, era o motorista de
táxi Acácio Cerol, que tinha 5 filhas, todas Marias, as quais atuavam no coro.
Desta família, havia ainda mais duas meninas no grupo, uma no coro, outra na
orquestra a tocar bandolim.
Mas
este não era o único caso, pois havia um outro em situação parecida, o da
família (José) Teopisto.
O coro
era constituído por 14 raparigas em geral solteiras, e 16 homens, muitos deles
casados. Entre os executantes, havia as mais variadas profissões, como
estudantes, carpinteiros, serralheiros, empregados de comércio, bancários e
donas de casa, tendo o mais novo catorze e mais idoso sessenta e quatro anos,
isto, segundo os dados de 1961/62. As meninas deslocavam-se para os ensaios ou
regressavam a casa na companhia das mães, pais ou irmãos. Sós é que nunca.
Impossível. Mesmo assim, ao longo dos anos estabeleceram-se alguns namoricos,
que terminaram no altar. Estes namoricos tanto ajudaram a sedimentar, como a
fragmentar o grupo, especialmente no caso de o casamento. Outros interesses e
preocupações surgiam…
A vestimenta dos
elementos musicais, deve-se a uma primeira sugestão do Professor Joaquim Vieira
Natividade (ou de sua esposa), ao adaptar o traje rico dos habitantes da região
de Alcobaça.
Mas como eram as
fardas?
Maria Luísa Dionísio
e Rosa Coelho contam que nos primeiros tempos do coro, por falta de verba, os
homens usavam calça preta e camisa branca, enquanto que as senhoras uma saia
preta e camisa branca. Em ambos os sexos, no lado esquerdo da camisa
encontrava-se bordado o emblema da O.T.C., inspirado no do C.A.A.C.. Na
Orquestra, aonde aliás não havia nos primeiros tempos intérpretes femininos, os
homens usavam o fato tradicional da região da Serra dos Candeeiros, que consistia
numa calça castanha escura (tipo serrobeco), uma camisa branca com frente,
colarinho e punhos bordados a azul e vermelho, cinta preta e jaqueta castanha
clara. Quando mais tarde houve fundos, todos os fatos da O.T.C. passaram a ser
iguais. A vestimenta, originária da Serra, era muito usual na região de
Alcobaça, com exceção de Valado de Frades, sujeito à influência da Nazaré. A
entrada de elementos femininos para a Orquestra foi, em parte, devida ao facto
de a mulher de Alves Coelho (Filho), D. Graciete, nela tocar acordeão.
O
número de associados do C.A.A.C. em 1962/63 era de cerca de 500, com uma
quotização mensal reduzida, que não dava para compensar as despesas, mas cujo
diferencial era suportado por um subsídio camarário mensal de 500$00, algumas
ofertas e pequenas receitas dos espetáculos. Mas o sucesso acarretou problemas
de funcionamento e o maior foi o C.A.A.C. e, consequentemente a O.T.C., não ter
instalações adequadas para funcionar, o que implicou que as reuniões da Direção,
em dias de ensaio, tivessem de ser efetuadas fora da sede. Há quem se recorde que
chegou a haver um projeto para construção de uma sede, mas nunca dinheiro,
desde logo para aquisição do terreno e que foi debatida uma proposta da Câmara,
então sob a presidência de Junqueiro, para construir o edifício em terreno, que
ficaria a pertencer ao património municipal !!!. O sonho da sede, enfim, não se
concretizou, e os esforços da Direção do C.A.A.C. centraram-se em fazer um
verdadeiro centro e arte e cultura e muito especialmente promover a O.T.C.,
dada a dificuldade de encontrar espaço adequado. A sala da sede era
extremamente pequena e insuficiente para juntar coral e orquestra, pelo que os
ensaios normalmente eram feitos como referimos separadamente. Os ensaios
realizavam-se inicialmente, num anexo à casa do Dr. Nascimento e Sousa, num
primeiro andar (celeiro) junto à Igreja da Conceição, cujo soalho se encontrava
em péssimo estado, muito esburacado, com risco de ruir ou de se entalarem os
sapatos. Através dele, chegava o odor das batatas e outros géneros guardados.
Foi porém neste cenário, depois conhecido carinhosamente no grupo como a Casa
das Batatas que foi gravado o
primeiro disco comercial da O.T.C, pela equipa técnica da casa Valentim de
Carvalho. Segundo, Maria Luísa Dionísio e Rosa Maria Coelho, acabou por ser
este o melhor estúdio, aonde se fizeram gravações. Para o efeito, foram
colocadas na rua barreiras, para impedir o trânsito automóvel e evitar ruídos
indesejáveis.
Depois
de se deixar o anexo da casa do Dr. Nascimento e Sousa, a O. T. passou a
utilizar uma sala junto ao antigo Tribunal, na ala norte do Mosteiro, aonde
também, foi gravado um disco comercial. O grande defeito desta sala era ser
gélida no Inverno.
A
grande pujança, os chamados anos de ouro da O.T.C. decorreu, no início da
década de 1960. José António Crespo e Maria Luísa contam mais algumas
apresentações, como um Serão para Trabalhadores no Pavilhão dos
Desportos-Lisboa, a 16 de Março de 1961, organizado pela E.N., que o transmitiu
em direto, em colaboração com a F.N.A.T. e dedicado ao Grupo Desportivo da
Companhia dos Telefones. Colaboraram na primeira parte, o conjunto (muito em
voga) de Jorge Machado, a cantadeira Natércia da Conceição, os artistas
Fernando e José Queijas bem como os cançonetistas Elsa Vilar, Alberto Ramos e
Maria Amélia Canossa. De acordo com o enquadramento da organização, haveria músicas tristes ou alegres, os fados de
Lisboa todas as noites nascem sem pedirem licença a ninguém. Basta que uma
guitarra se encontre ao lado de uma viola e que a presença de uma castiça
cantadeira se interponha entre ambas, para que os fados surjam e Malhoa esteja
presente com a sua mágica paleta…. A segunda parte foi preenchida com a
O.T.C., com um breve intervalo, para alguns momentos humorísticos do ator José
Viana. Era intenção propalada tanto pela E.N., como pela F.N.A.T., o propósito de apresentarem nestes Serões,
as Orquestras e Conjuntos da nossa terra que possuam verdadeira categoria,
como é o caso da de Alcobaça. Não esquecem também o Recital Artístico, de 3 de
Abril de 1962 em Alcobaça, com a colaboração da Orquestra Ligeira e Artistas da
E.N. (Alice Amaro, António Calvário, Artur Garcia, conhecido como o Rouxinol,
por se ter estreado profissionalmente com o tema Rouxinol dos Meus Amores. Rei
da Rádio em 1967, em 1969 Artur Garcia foi considerado Príncipe do Espetáculo),
Gina Maria, Guilherme Kjölner, Madalena Iglésias, Mara Abrantes, Maria Candal,
Maria Marise, Simone de Oliveira, Teresa Paula e Trio Harmonia). Num sábado, 4
de Novembro desse ano, a O.T.C. como referimos supra e recordam Crespo e Maria
Luísa fez um Recital no Cine-Teatro da vila, convidando artistas da Rádio e
RTP. Este espetáculo foi tão bem sucedido, como aliás se referia mais tarde em
casa do Dr. Magalhães, que, no dia 16 de dezembro seguinte se repetiu, com a
presença dos mesmos artistas (Madalena Iglésias, Maria Cândida, Artur Garcia,
Maria do Espírito Santo) e ainda de Graça Maria Rosado, Mariette Pessanha. Gina
Maria estaria presente, se o avião que a
trouxer dos Açores chegar a Lisboa, a tempo de depois se deslocar para
Alcobaça. Gina Maria esteve presente, pois o avião chegou a tempo de se
fazer transportar de taxi a Alcobaça.
No dia
11 de Fevereiro de 1962, a
O.T.C. com os solistas Maria Luísa Dionísio, Maria do Rosário, Maria de
Lourdes, José Teopisto, Olegário José e Valdemar do Nascimento, realizou uma
apresentação nos Montes, na sede da Associação, que funcionava numa adega,
propriedade do Dr. Amílcar Pereira de Magalhães. Também várias sessões de fados
castiços ali tiveram lugar. O edifício da adega, que foi sede da Associação
Recreativa Montense até 1968, com exceção da zona dos depósitos aéreos e
subterrâneos, era em chão térreo. Montava-se para cada espetáculo um palco com
pano de cena, um pequeno bar onde se serviam rissóis, copos de branco ou tinto,
colocavam-se bancos e cadeiras, bem como uma instalação, sonora normalmente
alugada em Alcobaça, numa casa à Pissarra.
O Dr.
Amílcar Magalhães foi entre 1961 e 1963, Presidente da Direção do C.A.A.C..
Além dele e de José Crespo (secretário-geral), fizeram parte da Direção nesse
mandato, Manuel Lemos Pereira da Silva (secretário adjunto), José Dionísio dos
Santos (tesoureiro) e Leopoldino dos Santos (vogal). J. Crespo gosta de
sublinhar, no que é assessorado por Maria Luísa Dionísio, que o ambiente no
grupo era excelente, pois os componentes da O.T.C. sentiam uma grande
solidariedade entre si e davam poucas faltas aos ensaios. Por sua vez, os diretores
não enjeitavam colaborar na organização dos espetáculos, concretamente
arrumando, levantando cadeiras e mesas, preparando o palco, a cena ou a
instalação elétrica ou mesmo suportar algumas despesas. Mais tarde esses
serviços passaram a ser efetuados por pessoas contratadas e pagas, o que
implicou custos elevados, em breve considerados insuportáveis.
Na
segunda parte do espetáculo dos Montes, para maiores de 6 anos, apresentado por
A. Canário, cujo ingresso não era barato, pois as cadeiras custavam 12$00 e o
peão 7$50, participaram ainda Artur Garcia e Graça Maria Rosado. Estes e outros
artistas como António Calvário, Simone de Oliveira, Madalena Iglésias ou Gina
Maria, realizaram também outros espetáculos em Montes, no mesmo local. No
referido espetáculo, a casa estava superlotada, houve pessoas que ficaram à porta,
e José Crespo recorda-se de uma excelente ceia oferecida pelo Dr. Amílcar
Magalhães, Presidente da Direção.
De
acordo com a revista Plateia (de Lisboa), no seu número de 10 de Maio de 1962, a homenagem a Silva
Tavares e à O.T.C, realizada no dia 3 desse mês, em Alcobaça, constituiu uma parada dos melhores artistas da Rádio e TV
nacionais, e uma orquestra da categoria que é a de Tavares Belo. Uma casa cheia
e um público ansioso que, não regateou aplausos quando Fernando Correia, alegre
e comunicativo locutor da EN, anunciou o início do espetáculo.
Na
primeira parte, atuou a O.T.C. e Silva Tavares, como era usual sempre que
presente, foi alvo duma significativa ovação, quando se acabou de ouvir a
Canção de Alcobaça. Os locutores Fernando Correia e Artur Peres apresentaram na
segunda parte, Gina Maria, Domingos Marques, Trio Harmonia, Cristina Maria e
Alice Amaro, acompanhados pela Orquestra de Tavares Belo. Na terceira parte,
foram chamados ao palco, o homenageado Silva Tavares, o Maestro Eduardo Loureiro,
chefe da Secção de Música Ligeira da E.N., os Maestros Melo Pereira, chefe da
Secção de Música Ligeira da RTP, Belo Marques e um representante da casa
discográfica Valentim de Carvalho. Subiram ainda ao palco, o presidente da CMA,
Jaime Horácio Junqueiro e Vereadores, bem como a direção do C.A.A.C.
Jaime
Junqueiro dirigindo-se a Silva Tavares, disse que temos V. Ex.ª. como filho de Alcobaça, pois esta vila é como uma pátria
para a qual corre sempre que pode e a quem entregou o diploma que o torna filho adotivo e cidadão de Alcobaça.
O Dr.
Amílcar Magalhães, teceu elogio às pessoas e à ação de Belo Marques e a Silva
Tavares. Silva Tavares agradeceu e, disse que (…) eu gosto de Alcobaça, como gosto daquilo que gosto. Gosto da minha
mulher, porque gosto (…). Em
seguida, fez a pequena história do nascimento da Canção Alcobaça, e a sua
original criação, na voz de Cidália Meireles.
Quem
cantou pela primeira vez a Canção de Alcobaça, foi Cidália Meireles, que tendo
ido trabalhar para o Brasil, cedeu o lugar a Maria de Lurdes Resende, que fazia
parte do elenco do coro feminino da EN.
Maria
Luísa Dionísio está convencida que foi Belo Marques quem perante a
impossibilidade de Cidália Meireles continuar a colaborar com a O.T.C., tomou a
iniciativa de convidar Maria de Lourdes Resende, para o seu lugar, acabando
assim por ficarem indissoluvelmente ligadas. A Canção de Alcobaça passou a
fazer parte obrigatória, do repertório de Maria de Lourdes Resende (a menina
feia), atuasse ou não com a O.T.C., bem como de artistas como Francisco José,
no auge da fama e no Brasil.
Num gesto, que muito
sensibilizou os presentes, Silva Tavares, abraçou na pessoa do Presidente da
Câmara a vila de Alcobaça, após o que a seguir ainda atuaram Maria Marise,
Simone de Oliveira, Madalena Iglésias, a brasileira Mara Abrantes e conjunto de
guitarras de Rui Nery, todos acompanhados pela Orquestra de Tavares Belo. Como
era tradicional, a O.T.C., ofereceu a todos os participantes do espetáculo, que
o foram a título gracioso, uma lembrança a testemunhar e a agradecer o
contributo de cada um e todos, para o êxito do evento. No final, foi servida
uma ceia, tendo ficado bem vincada e registada, a simpatia dos responsáveis do
evento, para aqueles que atuaram.
A 23 a 27 de julho de 1962,
decorreu em Lisboa, com sessões de trabalho na Faculdade de Direito, o XIX
Congresso da União Internacional dos Advogados (Union Internationale des
Avocats), cujo Presidente era o Professor Doutor Adelino Palma Carlos. Da
Comissão Executiva faziam parte, entre outros distintos Advogados, António
Madeira Pinto (Secretário Geral), José de Magalhães Godinho, Vasco da Gama
Fernandes ou José Maria Gaspar. Para além do Congresso, havia uma parte social
com espetáculos e passeios, sem prejuízo de um programa próprio para as
senhoras, esposas dos congressistas. O Advogado e presidente do C.A.A.C., Dr.
Amílcar Magalhães, convidou a O.T.C. a fazer uma apresentação para os
congressistas, antes do almoço que se realizou no Mosteiro de Alcobaça, no dia
25 de julho.
Chegou até hoje a
ementa do almoço, da responsabilidade da Pensão Restaurante Corações Unidos:
Acepipes, Linguados à Beneditina, Frangos na Púcara à Fradesca, Lampreia de
Ovos à Mosteiro, Frutas de Alcobaça e Café. Os vinhos branco e tinto, bem como
a aguardente velhíssima, eram JEM (José Emílio de Magalhães). Também foi
servida a boa Ginja de Alcobaça. Durante
a visita aos Mosteiros de Alcobaça e Batalha, bem como ao Castelo de Leiria, fizeram
breves palestras, respetivamente, o Professor Joaquim Vieira Natividade, Dr.
Pais d’Almeida e Arquiteto Camilo Korrodi. Nesse dia, os congressistas
deslocaram-se à Nazaré (onde assistiram a um programa de folclore), Batalha e
Leiria (em cujo jardim municipal lhes foi servido um chá e atuou o Orfeão de
Leiria))
Ainda nesse ano, a
27 de outubro, a O.T.C. deslocou-se à sede da Academia Recreativa de Santo
Amaro, para uma sarau de responsabilidade em que participaram Graça Maria,
Artur Garcia e José Nobre, apresentado por Pedro Moutinho (então casado com
Maria Leonor), e que utilizava sempre uma orquídia branca na lapela do casaco,
como recorda Maria Luísa Dionísio.
Em janeiro de 1963,
realizou-se no Cine-teatro de Alcobaça, um espetáculo de homenagem à O.T.C.
(que, por isso, não atuou), no estilo do programa da TV, Melodias de Sempre,
pelo muito que têm feito em favor da
música popular portuguesa. Colaboraram, graciosamente, artistas como Artur
Garcia, Madalena Iglésias, Mara Abrantes, Maria Marise, Gina Maria, Elsa Vilar,
Maria Fernanda Soares, Domingos Abrantes, o Coro das Melodias de Sempre, com o
maestro António de Melo ao piano. A locução esteve a cargo de Fialho de
Gouveia, Fernando Correia e Henrique Mendes. Os artistas utilizaram o guarda
roupa cedido por Anahory, conhecido figurinista das revistas do Parque Mayer e
das peças de teatro da TV.
No ano de 1963, a O.T.C. realizou
variados espetáculos, como na Maiorga (com Maria da Glória e Eugénia Maria) ou
em Valado de Frades (com Maria Fernanda Soares e Artur Garcia).
Na
alameda da Quinta da Cova da Onça, vistosamente engalenada, promovido por
C.A.A.C., realizaram-se, no ano de 1963, os festejos dos Santos Populares. A
O.T.C. marcou presença na última noite. Ali funcionou uma quermesse com
barracas de tômbola (panelas e tachos), de ginjinha, de rifas, de
comes-e-bebes, com amêijoa, frango no espeto, sardinha assada, etc., bem como
barracas dos mais variados artigos, onde predominavam os de fabricação
alcobacense. Nesse ano, a RTP havia vindo a Alcobaça filmar o espaço da Cova da
Onça, onde estavam a decorrer as festas, para utilizar as imagens num programa
que a O.T.C. veio a apresentar em direto nos estúdios de Lisboa. No ano
seguinte (1964), os festejos dos Santos Populares realizaram-se na cerca do
Asilo de Velhinhos Maria e Oliveira. Desta vez, vieram a Alcobaça, artistas
como Maria Fernanda Soares e Artur Garcia (propagandeado como conhecido e apreciado dueto de Melodias de
Sempre) Fernanda Pacheco, Luís Piçarra (o
mais internacional dos artistas portugueses) e Gina Maria (1º. Prémio de interpretação em Espanha),
Margarida Amaral, Fernanda Pádua (uma
promessa de futuro), Lina Maria, Max (madeirense autor e intérprete do
sucesso popular A Mula da Cooperativa e Pomba Branca), Carlos do Nascimento, (Rei da Rádio de Angola e apreciado artista
da Rádio e da TV), e ainda Simone de Oliveira, (vedeta da voz de oiro e rainha da popularidade). Desde o Santo António, que ali se
vinham realizando festejos, nos quais se exibiram, além dos consagrados
artistas, o Orfeão da Sociedade Central de Cervejas, sob a regência do maestro
Alves Coelho (Filho). Mas foi precisamente a noite de S. Pedro, que se revelou
especialmente notável. O sarau, numa noite chuvosa e ventosa, pouco agradável,
começou pelas 22h, com a exibição do Rancho Folclórico da Nazaré, num recinto
completamente cheio. Porém, o grande momento da noite consistiu como é óbvio na
apresentação da O.T.C. Nestas atuações, interpretava a peça, que aliás veio a
gravar em disco, Há Mercado em Alcobaça.
No ano
2000, a
Rádio Renascença, conjuntamente com a Movieplay, numa coletânea de Clássicos Portugueses,
fez uma reedição e uma passagem para CD:
Alcobaça tem // Um
mercado original // Pois que toda gente que aqui vem // Vai a dizer bem,
//Nunca diz mal.
Vende-se de
tudo//Que é antigo e que é moderno,//Tecidos de chita e de veludo//E frutas do
verão, em pleno Inverno.
Se depois
chegar,//Em passando o nono mês//Um bebé bonito p’ra alegrar,//Terá que comprar
//Mas para três…//E depois virá o tal dia que é preciso//Ensinar aquilo que
ouviu já//Para que o rapaz tenha juízo…
Só nos prende//Um
pormenor//Não se vende //Aqui amor…
Estribilho
Quem
quiser//Escolher//A mulher//P’ra viver,//E pensar//Vida sã//Para o lar//De
amanhã,//Só precisa comprar//Valiosos bragais,//E depois … //É casar,//Nada
mais!
A
O.T.C. recebeu no dia 14 de dezembro de 1963, a Orquestra Típica Albicastrense que veio
a convite do C.A.A.C. dar um espetáculo ao Cine-teatro. Segundo o jornal
Reconquista, de Castelo Branco (22 de dezembro de 1963), a caravana
albicastrense, esperada em Aljubarrota por
mais de uma dezena de carros, apesar da chuva que persistentemente caía, foi a
mesma escoltada até ao largo fronteiro ao edifício dos Paços do Concelho, onde
foi recebida pelo Senhor Presidente da Câmara Municipal, pela digníssima
vereação, direções do Centro Alcobacense de Arte e Cultura, da Orquestra Típica
de Alcobaça, etc., e por muito povo que ali acorreu ao ouvir a salva de
morteiros e as girândolas de foguetes que foram deitados. Uma banda de
música, que se encontrava em frente aos Paços do Concelho executou o hino no
momento em que a embaixada de Castelo Branco entrou no edifício. À noite, o sarau
do Cine-teatro, com casa esgotada, começou com a O.T.C., seguida na segunda
parte pela Orquestra Típica Albicastrense e, finalmente, um ato de variedades,
em que atuaram Artur Garcia e Simone de Oliveira, bem como, os apresentadores
Henrique Mendes e Leite Pereira. No final do espetáculo, de acordo com o
cronista de Castelo Branco que acompanhou e registou a saída do seu
agrupamento, foi servido o opíparo copo
de água (desta vez no Restaurante Bau)
a todos os elementos que tomaram parte no sarau, tão abundante e variado que,
no fim apesar de se encontrarem presentes mais de 150 pessoas (…) dir-se-ia que estava intato!!!.
Maria
Luísa estava tão cansada, que na ceia do Restaurante Bau, o que mais lhe
apeteceu foi sentar-se, ficar quieta, esticar as pernas, fechar os olhos e…
descansar. De facto as meninas da O.T.C. desdobraram-se a solicitar às senhoras
de Alcobaça, para que oferecessem um prato, quente ou frio, para a ceia.
No
tempo de D. Celeste, proprietária da Pensão Restaurante Corações Unidos, pessoa
extremamente entusiasta, por todas as coisas de Alcobaça, havia sempre
disponibilidade para que quando algum artista tivesse que jantar antes do espetáculo,
ou ficar para o dia seguinte, o fizesse em sua casa, em condições muito
especiais. É importante realçar a colaboração da população de Alcobaça, quando
se realizavam espetáculos no Cine-teatro, com a presença de artistas de fora e
de nomeada, os quais se deslocavam em geral graciosamente, e a convite do
maestro Alves Coelho (Filho), que tinha uma boa relação com quase todos eles. A
finalidade, normal, era angariar fundos, para uma determinada obra social e
estes simpaticamente colaboravam. Os tempos eram outros….
A
propósito da deslocação da Orquestra Típica Albicastrense a Alcobaça, o Jornal
do Fundão (5 de janeiro de 1964), destaca o
calor da assistência na sala repleta de assistentes, a receção e boas vindas
calorosas daquelas gentes onde a arte não morreu…, por contraponto ao que
se passa em Castelo Branco, cuja população dá pouco apoio à sua Orquestra
Típica. Sobre este assunto, João da
Gardunha, no mesmo comprimento de onda e de apelo ao bairrismo, lastima
como foi chocante, doloroso mesmo,
verificar a indiferença com que a cidade (Castelo Branco) acolheu o espetáculo anual da O.T.A. (Orquestra
Típica Albicastrense)que lhe foi
dedicado. E foi tanto mais notória essa impressão dolorosa, porque, apenas dois
dias antes a mesma O.T.A., após uma receção grandiosa e inenarrável na vila de Alcobaça,
culminou essa visita com uma actuação que perdurará através o espaço e o tempo
na memória daqueles que a ela tiveram a dita de assistir, tal o nível a que se
alcandorou, devido ao brio dos seus dedicados componentes.
Segundo
o República (30 de julho de 1963), a O.
T. C. não precisa de apresentações, é mais do que conhecida no país e apreciada
pelas suas exibições no programa da RTP -Melodias de Sempre.
Antes
de findar o ano de 1964, a
O.T.C. ainda se deslocou à Figueira da Foz a 7 de Novembro, para cumprir um
contrato como Casino Peninsular, aonde bisou várias canções, alcançou êxito e
dedicou à cidade anfitriã a seguinte peça, cuja letra nos foi facultada
(obviamente) por José António Crespo, esse dedicado e apaixonado colecionador
de coisas relacionadas com Alcobaça.
Rainha do mar português// Figueira//Que tem mais
azul todo o mar//Figueira//A serra onde tu te revês//Figueira//Parece um
milagre a passar//Figueira.
O mar//De bravura//E altura// Sem
par,//Sorri na Figueira da Foz.//O mar//Que não pode// Nem pede//Lugar,//Sorri
na Figueira da Foz.//O mar//Que por vezes//Revezes nos traz//Sorri na Figueira
da Foz.//Se o mundo quiser// Conhecer//Sonho e paz//Que venha à Figueira.
O
Alcoa (13 de fevereiro de 1965) deu nota da festa de confraternização do
C.A.A.C., que organizou um almoço oferecido pela direção a todos os componentes
da O.T.C., e onde estiveram presentes o Chefe dos Serviços Musicais da E.N.,
Alves Coelho (Filho) e esposa. Após o almoço usaram da palavra, entre outros,
Fernando Afonso Ramos, Fernando Raposo de Magalhães e Raul dos Reis Gameiro. O
Chefe dos Serviços Musicais da E.N. agradeceu o convite, que lhe foi dirigido e
à esposa, enalteceu o papel e o contributo que a O.T.C. tem desenvolvido, junto
da sua entidade patronal, como intérprete privilegiado da música portuguesa.
De
novo, em colaboração com a E.N. e a F.N.A.T., em Maio de 1965, a O.T.C. realizou um
Serão para Trabalhadores, no Liceu Camões-Lisboa, dedicado ao pessoal da
Soponata. Neste Serão, atuaram também a Orquestra Ligeira da EN, sob a regência
de Tavares Belo, o Conjunto Quatro de Espadas, Isabel Fontes e Ivone de Andrade
(apresentados como novos artistas), Artur Garcia, Coro Misto e Orquestra e
ainda Simone de Oliveira. A primeira
parte do nosso tradicional Serão (na apreciação encomiástica feita pela
organização) caracteriza-se por um belo
desfile de melodias, impondo mais uma vez, o bom gosto dos nossos compositores.
O lugar aos novos será preenchido pela rubrica de revelações, Novos
Artistas, testemunho claro do incentivo
que a E.N. proporciona aos esperançosos cançonetistas que procuram,
ansiosamente, o rumo da consagração. Saliente-se, ainda, a intervenção do Coro
Misto que sublinhará, acompanhado da Orquestra Ligeira da EN, dirigida por Tavares
Belo, a inesquecível melodia de Raul Ferrão Abril em Portugal. Momento de beleza musical estará também a
cargo do Coro Feminino, revivendo a já famosa página de Tavares Belo Dois
Tempos de Jazz. Na segunda parte, atuou
a O.T.C., no intuito de variar os elencos
destes tão populares passatempos recreativos, organizados pela EN em
colaboração com a FNAT, mais uma vez depois de tantos êxitos colhidos, volta à
ribalta artística do nosso Serão para Trabalhadores, o Coral de Alcobaça, que
tanto tem contribuído para a divulgação do rico folclore português. Além do
conjunto vocal associa-se o relevo musical da sua conhecida Orquestra Típica.
Este conjunto, bem como o Coral são dirigidos por Alves Coelho (Filho) e todas
as suas interpretações obedecem a um seletivo reportório de melodias, onde está
presente a alma do povo nos seus cantares e desgarradas.
Na
noite de 22 de maio de 1965,
a O.T.C. foi participar num Sarau organizado pelo Grupo
de Instrução Popular da Amoreira-Costa do Sol. Cerca das 22h teve início um
baile, com a colaboração de um bom
conjunto musical. Segundo o Jornal da Costa do Sol (29 de maio de 1965),
foi como que uma façanha a presença
da O.T.C., que se deslocou (gentilmente) à Amoreira, conjuntamente com a
artista de Cascais, Natalina José. Quando pela 1h da manhã atuou a O.T.C.,
constituída como sublinhou Alves Coelho, por
gente simples e rude que ganha o seu pão cavando os campos, e interpretou a
Canção de Alcobaça, ouviram-se calorosos e prolongados aplausos, que premiaram
o agrupamento, como era habitual aonde e sempre que a orquestra se
apresentasse. Segundo o mesmo Jornal da Costa do Sol, o único senão na atuação da O.T.C. de
Alcobaça foi não ter prolongado um pouco mais, a sua exibição, para dar ainda novas provas do seu valor.
A O.T.C. recorde-se era
composta, exclusivamente, por amadores.
Maria Luísa Dionísio
lembra uma deslocação ao Reformatório de Caxias, aonde Alves Coelho (Filho) era
professor de música. No Reformatório, havia oficinas das mais variadas atividades,
como carpintaria, serralharia, tipografia ou cartonagem. Então, houve a enorme
gentileza por parte da organização, de oferecer a cada membro da O.T.C., um
bloco encadernado com uma dedicatória Recordação do Reformatório de Caxias. Tão
apreciada foram estes blocos que, doravante passaram a ser utilizados, para
registo das letras ou guardadas as pautas das músicas.
Um grande espetáculo
da O.T.C., ocorreu no Cine-teatro de Alcobaça, no dia 13 de Janeiro de 1968,
dia de aniversário de Rosa Maria Coelho, que nos camarins teve direito a que
lhe cantassem os parabéns. Na primeira parte exibiram-se ranchos folclóricos
dirigidos por Celestino Graça, Grupo Infantil de Dança Regional de Santarém,
Grupo Académico de Danças Ribatejanas, Rancho Folclórico do Bairro de Santarém.
A O.T.C. apresentou-se, desta vez, sob a regência do maestro fundador, António
Gavino que se encontrava de férias, vindo de Moçambique. Além do mais, tinha
havido um pequeno diferendo entre Alves Coelho (Filho) e a direção do C.A.A.C.,
o que acarretou que aquele se tivesse ausentado durante algum tempo.
No Cine-teatro de
Alcobaça, a 17 de maio de 1969, novamente com Alves Coelho (Filho) o C.A.A.C.
para comemoração do seu 12º aniversário, realizou um Sarau, onde colaboraram, a nossa querida Maria de Lurdes Resende,
intérprete inolvidável da Canção de Alcobaça e Libânia Feiteira, a grande
revelação da arte de declamar.
No dia seguinte, o
C.A.A.C. organizou pelas 14h um torneio de tiro aos pratos, pondo em disputa
libras de ouro. Ao mesmo tempo, houve um torneio para amadores, ou seja para
aqueles que nunca atiraram aos pratos.
Pouco depois, a
O.T.C. foi convidada a deslocar-se à RTP a fim de participar no programa
Zip-Zip, transmitido em direto a partir do Teatro Variedades, no Parque Mayer,
bem como um outro realizado no Pavilhão dos Desportos, onde atuaram as mais
relevantes Orquestras Típicas do País, isto é, Alcobaça, Santarém, Castelo
Branco e Estremoz. Este espetáculo, que foi transmitido pela RTP, teve o
interessante acrescido de ter finalizado com uma atuação conjunta das 4
Orquestras, dirigidas pelo Maestro Melo Pereira.
Silva
Tavares, pessoa de fino trato, foi um bom amigo de Alcobaça, com quem mantinha
uma forte ligação afetiva, e frequentava com bastante assiduidade. Em Alcobaça
sentia-se bem, pois era muito estimado, e que considerava como a sua segunda
terra. Aqui recuperou nas Termas de Piedade, após uma grave doença que
determinou a sua hospitalização.
Por
testamento de 1969, veio a legar alguns bens à CMA, como os seus retratos de
autoria de Luciano Santos (óleo), de Eduardo Malta (lápis), de José Contente
(pastel), livros de que foi autor, numerados, assinados ou por si rubricados,
as pastas que utilizava profissionalmente, um cofre em mármore contendo terra
do quintal da casa natal em Estremós, uma máscara em bronze do seu amigo, poeta
brasileiro Olegário Mariano e ainda uma luxuosa encadernação da obra O Cardeal
Cerejeira, da autoria do Pe. Moreira das Neves, na qual existia dedicatória do
purpurado.
Foi
Maria de Lurdes Resende, quem se veio a revelar a grande intérprete da Canção
de Alcobaça. Irrequieta e traquina desde a mais tenra idade, nasceu no Barreiro
em 1927. Canta desde que se lembra, como em 1957 contou numa entrevista à
revista Flama e donde se respigaram estas notas. Assim que nasceu, começou a
berrar, tarefa a que se dedicou durante o primeiro ano de vida, para grande
desespero e insónia dos pais. Ao crescer, ganhou a convicção de que um dia
seria cantora profissional, talvez até de ópera. Os pais opuseram-se com
veemência e só aos 18 anos se estreou em palco, embora com o nome de Maria de
Lurdes, porque Resende era o nome da família que a tinha contrariado na sua
ambição. Maria de Lurdes Resende, chegou a ganhar grande popularidade, com uma
voz ao serviço das cantigas. Alcunhada gentilmente de a Feia Bonita, Maria de Lurdes Resende deu a resposta
adequada, popularizando a cantiga A Feia.
Mas a
Canção de Alcobaça foi, efetivamente, o seu grande êxito, em Portugal e além
fronteiras. Quem passa por Alcobaça//Não
passa sem por cá voltar (…).
À boa
moda portuguesa, passaram a correr na vila uns versos, parodiando a Canção de
Alcobaça. Tais versos, vinham a propósito do estado do Rio Baça que tinha, como
hoje, um pequeno caudal, e que exalava um cheiro nauseabundo. Junto à ponte da
Rua David da Fonseca foi colocada pela Câmara Municipal uma placa, proibindo os
vazadouros, aliás sem grande sucesso durante muito tempo, por obra e graça de
muito alcobacense, incapaz de mudar de hábitos ancestrais… Os versos eram, se
bem se recorda aqui:
Quem passa por Alcobaça//E vai visitar o
Baça//Apanha tal pitaça//Que nunca mais por lá passa.
O rio
Baça constituía um enorme depósito de detritos em putrefação e encontrava-se
ainda a descoberto.
Em
1970, realizou-se em Lisboa, no Teatro Monumental, uma grandiosa festa de
homenagem a Maria de Lurdes Resende, comemorativa dos seus 25 anos de vida artística.
Presidiu o Presidente Américo Tomás, que condecorou a artista, tendo Alcobaça
comparecido em massa, através da Câmara Municipal, Santa Casa da Misericórdia,
a Orquestra Típica, Bombeiros, Ginásio e Grémio do Comércio. Enfim, todos para
dizer a Maria de Lurdes Resende quanto a apreciavam e lhe estavam agradecidos
como grande divulgadora desta terra de
Cister.
Maria
de Lurdes Resende, veio ainda em 29 de Abril de 1995, a ser homenageada em
Alcobaça, ao que o jornal Notícias de
Loures, sob a pena de Jorge Valente, deu o devido destaque na primeira página.
Os apresentadores do espetáculo no Cine-Teatro, foram Artur Agostinho, Etelvina
Lopes de Almeida, Igrejas Caeiro e Isabel Wolmar que, em conjunto, se dirigiram
ao público com um Boa noite, poeta Silva
Tavares! Boa noite maestro Belo Marques! Boa noite Maria de Lurdes Resende! Boa
noite Alcobaça! Com esta saudação, não
se limitavam a fazer um cumprimento, resumiam também o sentido da festa: na
homenagem à intérprete, tinham de por força estar o autor da letra, o compositor da música e a vila inspiradora da
canção que correu mundo e não se esquece facilmente. Entre o muito
expediente de congratulações que foi lido pelos apresentadores, o Noticias de
Loures destacou duas ingénuas, simples, mas agradáveis quadras, que se
transcrevem: Senhora grande a
cantar//cantigas que o Povo entende//É Portugal a vibrar//A nossa Lurdes
Resende. Que Deus de saber profundo//A proteja e a todos nós!//P’ra mesmo no
outro mundo//Ouvirmos a sua voz.
Depois
de agradecer as palavras do Presidente da Câmara Miguel Guerra, no Salão Nobre
dos Paços do Concelho, a homenageada referiu que, entre as mais de duas mil canções que cantei, há muitas que são
solicitadas, mas Alcobaça é exigida. A aceitação do público comove-me e faz-me pensar
que nasci aqui.
Por
via da canção, a Câmara Municipal decidiu que autores e intérprete passaram a ser vizinhos na geografia da vila,
mercê da atribuição dos seus nomes a três artérias da parte alta da Gafa. A
Banda de Alcobaça esteve presente na homenagem e na prenda que ofereceu,
consignou a seguinte dedicatória: Vão
passando as águas dos rios. Na ponte para o futuro, fica a voz a cantar
Alcobaça…
Silva
Tavares foi ainda objeto de uma expressiva homenagem no Cine-teatro de
Alcobaça, em Junho de 1972, aonde estiveram presentes, entre outros, o
Presidente da Câmara, que usou da palavra e vereadores, o Deputado Dr. Amílcar
Magalhães, representantes da EN e RTP, David Mourão Ferreira, em representação
da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais, o escritor e amigo pessoal
Adolfo Simões Müller, que usou da palavra, o Presidente da Câmara de Estremóz,
terra natal do homenageado. Finda a
cerimónia, foi descerrada uma lápide com o nome do homenageado na rua a que foi
dado o seu nome, no então chamado bairro das Casas da Caixa de Previdência.
Cerca
de um mês antes do imprevisto falecimento, Belo Marques também fora objeto de
uma homenagem no Cine-teatro de Alcobaça, que se encontrava a abarrotar.
Tempos depois (nos anos sessenta) a
Orquestra Típica e Coral de Alcobaça, interpretava com Luísa Dionísio e outros,
com muito agrado, um número com música de António Gavino e letra de Alberto
Goucha:
Com mê fato dominguêro//Vim de casal e mais três//O mê irmão que é padêro//O mê burro e o Inês.
E na Fêra d’encontrões//Que
levê no meu corpinho//Perdi todos os
botões//De mê fato tão novinho.
No carrossel é que
é//Dez tostões uma voltinha//Nem me tinha já de pé//Tanta volta dá a pinha.
Mas gostei e não
lamento//O dinhêro que gastava//E quis levar o jumento//Só
p’ra ver o qu’aquilo dava.
Logo naquele
momento//Disse ao Inês ao acaso//Olha lá traz o jumento//Que um a mais não faz
é caso.
E a bruxa leu as
sinas//Disse ao Inês em segredo//Há de ter oito meninas//Deixe lá não tenha
medo.
À Fêra não volto
mais//Enquanto tiver memoira//Mas vês
outros que voltais//Ouçam o resto da história.
Deus quis assim, nós
também//Casámos eu e o Inês//A bruxa falara bem//Meninas só faltam três.
Arre burro!
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE
SALAZAR, CAETANO E OUTROS
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