-NÃO VIA
UMA NOTA DE MÚSICA, NEM DO TAMANHO DE UM CAMIÃO.
ENQUANTO UM TOCAVA E CANTAVA , O OUTRO DANÇAVA OU
NAMORISCAVA-
Fleming de Oliveira
Nunca
soube a ler uma pauta de música, não conhece um dó, mas na Fervença, toda a gente sabe a desenvoltura com que
António da Costa sempre retirou do acordeão e da concertina, as melodias das
músicas populares, que marcaram o seu tempo de rapaz.
Aprendi de ouvido.
Explica-me
que começou ainda muito novo a observar os músicos nos bailes e, de regresso a
casa, com a música no ouvido, não conseguia dormir enquanto não
reproduzisse os números, tal e qual os tinha ouvido. Eu aprendia de ouvido e à
primeira vez, porque, naquele tempo, os números não eram tão difíceis, como os
de agora.
Era
tal a facilidade com que aprendia as músicas
que o pai que tocava na Banda nunca o deixou ir estudar música.
Porque é que tu vais aprender, se consegues
tocar só de ouvido?, perguntou-lhe uma
vez sem perceber nada.
Ao
longo de mais de sessenta anos, António da Costa integrou alguns grupos de
música popular. Foi presença assídua em bailaricos e festarolas de cariz
popular como os Santos.
António
da Costa, não sabe dizer em que altura lhe nasceu o gosto pela música. Diz que
esse gosto nasceu com ele e com o leite materno.
Lembra-se,
que não perdia um único baile e acompanhava de perto a atuação de dois
acordeonistas que habitualmente os animavam, tocando e cantando as modas do tempo.
Dado
que pais não tinham posses para lhe comprar um instrumento, António foi
trabalhar como resineiro para a zona de Pataias.
Andei lá andei a carregar madeira e a
levá-la para uma serração.
Com o
dinheiro que conseguiu juntar, comprou uma sanfona.
Apesar
de se encontrar agora afastado das atuações públicas, António da Costa tem em
casa uma meia dúzia de instrumentos que, de vez em quando, toca nas festas de
família. Um deles é uma concertina com mais de cem anos, que custosamente adquiriu a um herdeiro de
um antigo instrumentista.
Com quatorze anos eu já fazia bailes.
Na
altura, poucas eram as pessoas que sabiam tocar instrumentos musicais, pelo que
o acordeonista era muito requisitado para animar os bailaricos e festas
populares.
Naquele tempo, a gente começava o baile às
nove da noite e ia até ao sol nascer. Era a noite inteira. Às vezes vinha o
padeiro fazia-se café, a gente comia e depois seguia para o trabalho.
Sendo o
único animador dos bailaricos, tocava toda a noite sem que tivesse oportunidade
para dançar. Por isso, a dada altura, quando passou a ter buço, decidiu fazer uma combinação com outro acordeonista. Iam
juntos animar os bailes e alternavam-se nas atuações, enquanto um tocava e
cantava, o outro dançava ou namoriscava.
Inicialmente eu não ganhava nada, nem dava
para o conserto das concertinas. Por isso, a dada altura, eu tive de dizer que
assim não dava e comecei a ganhar qualquer coisita para tabaco.
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE
SALAZAR, CAETANO E OUTROS
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