quarta-feira, 16 de abril de 2014

BOCAGE, CENSURA E INQUISIÇÃO


 
BOCAGE, CENSURA E INQUISIÇÃO

Fleming de Oliveira


Manuel Maria Barbosa du Bocage (com o pseudónimo de Elmano Sadino), foi várias vezes preso, alegada e popularmente por meras razões de licenciosidade (vida boémia em botequins e bordeis), mas não só (tertúlias literárias), foi denunciado à Inquisição como perigoso herético e maçon.
Interrogado e preso nos cárceres do Santo Ofício, foi enviado para o Limoeiro, imposta a reclusão no Mosteiro de S. Bento e finalmente residência fixa na Congregação do Oratório, no Convento-Prisão das Necessidades, aonde tinha de ouvir, aos domingos, os sermões dos oratorianos. Durante mais de dois anos esteve preso, por razões ideológicas: Vítima do rigor e da tristeza//Em negra instância, em cárcere profundo//O mundo habito sem saber do mundo/Como que não pertenço à natureza/// Enquanto pela vasta redondeza//Vai solto o crime infesto, o vício imundo//Eu (não perverso) em pranto a face inundo//Do grilhão suportando a vil dureza.

Para Bocage ficar sujeito à Inquisição e ao poder de Pina Manique (o mais radical dos desembargadores no desempenho durante cerca de 25 anos de Intendente Geral da Polícia), foram determinantes escritos em que revelava  (sem pudor ou cautela), os sentimentos liberais (ecos da Revolução Francesa), como a Epístola a Marília, tidos por sacrílegos e blasfemos.
Mas afinal eram libelos contra a intolerância, o fanatismo e a superstição, um Deus opressor e vingativo, um Deusterrível aos olhos da ignorância.[FdO1] 
No caso de Bocage há destacar a sua conduta Rumo à Cidadania, a luta pela implantação de um Estado, assente na Liberdade e Justiça, o respeito por valores éticos e universais, capazes de construir uma sociedade plural e solidária.
A postura que manteve ao longo da vida, o seu estilo marginal e o aspeto satírico da sua personalidade, escondiam um íntimo em conflito entre o ódio e o amor, o inferno e o céu, a libertação e a morte.

Pina Manique, foi obcecado pelo combate à Maçonaria que se espalhava entre jovens, menos jovens, aristocratas (Duque de Lafões) e plebeus, civis e militares, funcionários do Estado, profissionais liberais e religiosos (Abade Correia da Serra).
Bocage, em finais do século XVIII entrou na Maçonaria e fez parte da Loja Fortaleza, aonde assumiu o nome de Lucrécio. Participou em atividades conspirativas em botequins do Rossio, frequentou as tertúlias literárias do Morgado de Assentis, à Praça da Alegria, e do Conde Pombeiro, ao Paço da Rainha.
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE SALAZAR, CAETANO E OUTROS

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