-A CENSURA (no tempo do Estado Novo) E BENTO DE
JESUS
CARAÇA,
ANTI
FASCISTA E MATEMÁTICO-
Fleming de Oliveira
Com
referência à censura em Portugal no tempo do Estado Novo, há a referir Bento de
Jesus Caraça, antifascista mas posicionado num quadrante político-ideológico
bem definido.
Bento de Jesus Caraça, matemático e ensaísta, foi figura
de referência da Matemática em Portugal e da cultura de esquerda, sobretudo afeta
ao PC. Apesar da morte prematura e de não ter tido oportunidade, por
perseguição política, de exercer na Universidade o trabalho que desejaria, a
sua capacidade de intervenção, cultural e ideológica, sobrelevou esses
problemas e garantiu-lhe um lugar na posteridade, para além do mundo
universitário e do memorialismo anti-fascista.
A obra,
tal como a vida, espelham a realidade portuguesa, simultaneamente no que esta
tinha ou ele entendia de mais grave, a Ditadura e seus efeitos sendo o mais
premente, a necessidade de a romper.
A obra
mais emblemática que produziu, foi A
Cultura Integral do Indivíduo, datada de 1934, embora não seja a sua
primeira publicação. De carácter ensaístico, ela persiste como um trabalho de
reflexão sobre a ciência na vida dos indivíduos. Muito ativo, Bento de J. Caraça
fez parte do MUNAF em 1944 e com Azevedo Gomes promoveu, em 1945, o MUD.
A
combinação de espírito científico, empenho pedagógico e atividade oposicionista
acabaram por provocar polémica com António Sérgio, que competia com todos os
demais e, em particular, com a esquerda comunista pelo primado do apostolado da
ciência e da democracia entre os jovens, pelo que em 1945 e 1946, nas páginas
da Vértice, a leitura duvidosa de Platão por parte de Sérgio e
a exposição rigorosa de matemática por Caraça, acabaram por ser o menos
relevante na polémica entre ambos.
Foi um
confronto que vinha de anos antes, entre o idealista espírito seareiro original
e a estratégia de influência comunista, materialista, de oposição radical ao
Regime.
A
polémica entre Caraça e Sérgio, após a II Guerra, veio confirmar a divergência
nos círculos oposicionistas portugueses, entre os demoliberais, e os
revolucionários marxistas-leninistas próximos do PC, designados usualmente como
neo-realistas.
Como
não poderia deixar de ser, tamanha projeção prejudicou a sua vida pessoal e
profissional. Preso pela PIDE por duas vezes, acabou em 1946 por ser demitido
da cátedra na Universidade Técnica de Lisboa.
Permaneceu,
porém, uma referência entre os alunos do Instituto Superior de Ciências
Económicas e Financeiras, que,
segundo rezam as crónicas, reduziam a sigla da instituição a Isto Sem Caraça Era Fácil (I.S.C.E.F.).
Esteve
ligado à origem da Revista de Economia, cujo primeiro número, foi publicado em
1946, pouco tempo antes da sua morte.
A sua
memória está um pouco esbatida, apesar de o seu nome se encontrar repetidamente
na toponímia de várias localidades do sul do País, sobretudo nas autarquias de
preponderância comunista.
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE
SALAZAR, CAETANO E OUTROS
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