-D. SARA (de Alpedriz), FEIA, FORTE E SUPOSTAMENTE
ABONADA DE CABEDAIS.
PAPEL HIGIÉNICO, O REPÚBLICA E ROOSEVELT-
Fleming
de Oliveira
Nesse
tempo vivia-se mesmo mal, e havia (indisfarçável) pobreza em Portugal e
Alcobaça.
O meu
amigo Altino Ribeiro nunca esqueceu, o caso da D. Sara, de Alpedriz, senhora
feia, forte e supostamente muito fina e ares de abonada em cabedais. D. Sara
era casada com um tal Senhor Henrique,
que para desgosto dela, tinha o mesmo nome de um rapaz que viera de Trás-os-montes
trabalhar para eles com o pai. Para não haver risco de confusões entre seu
marido e o rapaz (pobre jornaleiro sem eira nem beira que se chamava Henrique),
chamou-o a casa, bem como ao pai, perguntando-lhes se estavam dispostos a que,
doravante, o rapaz não se chamasse mais Henrique, isto é, a trocar de nome.
Passaria ser para toda a gente o Zé. Em
compensação, durante dois dias, filho e pai podiam ir a casa de D. Sara comer
uma fatia de pão barrado, com arrobo. E
eles aceitaram…
Altino
Ribeiro jurou-me que isto não é inventado ou anedota.
E a
história do papel higiénico?
Vou
contar. O papel higiénico era objeto de racionamento, em casa da família de
Altino Ribeiro, em Alpedriz. Utilizava-se normalmente qualquer papel que se
encontrasse à mão, fosse de jornal ou de embrulho. No campo, as pessoas
utilizavam a erva, folhas de árvores ou ramagens…
Um
dia, com os seus doze anos, Altino depois de satisfazer uma necessidade
inadiável, utilizou uma folha de jornal que estava a jeito. Hoje ainda se recorda
(já lá vão cerca de oitenta anos), que essa folha era do jornal República,
aquele que se lia em casa do avô materno, Ceslau Ribeiro dos Santos, uma
republicano militante e assumido. A circunstância que levou o Sr. Ceslau a ficar irritadíssimo e a
descompor o inocente neto, decorreu do facto de a folha que o rapaz utilizou,
conter a fotografia de Franklim D. Roosevelt (Presidente dos EUA).
Mesmo
depois de terminada a Guerra na Europa, a vida em Portugal não melhorou logo.
O
racionamento manteve-se. A população era vítima da ganância, especulação e
traficância de alguns comerciantes, que uns oportunistas apelidavam de mercado
livre, mas outros bem sacrificados de mercado negro.
A
falta de arroz sentiu-se bastante em Alcobaça, pelo menos, no verão de 1946.
Isto é, só faltava o arroz que deveria ser vendido ao preço da tabela, pois que
de sacos estavam as lojas cheias. O azeite, que antes nunca faltara, também era
agora objeto de negócios escuros, tanto assim que pela mesma altura foi apanhado
em flagrante pela GNR de Alcobaça, um homem da Murteira, que traficava
indevidamente 365 litros ,
ao que se dizia, com destino a Caldas da Rainha.
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE
SALAZAR, CAETANO E OUTROS
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