quarta-feira, 16 de abril de 2014

-D. SARA (de Alpedriz), FEIA, FORTE E SUPOSTAMENTE ABONADA DE CABEDAIS. PAPEL HIGIÉNICO, O REPÚBLICA E ROOSEVELT-


 


-D. SARA (de Alpedriz), FEIA, FORTE E SUPOSTAMENTE ABONADA DE CABEDAIS.
PAPEL HIGIÉNICO, O REPÚBLICA E ROOSEVELT-

Fleming de Oliveira

Nesse tempo vivia-se mesmo mal, e havia (indisfarçável) pobreza em Portugal e Alcobaça.
O meu amigo Altino Ribeiro nunca esqueceu, o caso da D. Sara, de Alpedriz, senhora feia, forte e supostamente muito fina e ares de abonada em cabedais. D. Sara era casada com um tal Senhor  Henrique, que para desgosto dela, tinha o mesmo nome de um rapaz que viera de Trás-os-montes trabalhar para eles com o pai. Para não haver risco de confusões entre seu marido e o rapaz (pobre jornaleiro sem eira nem beira que se chamava Henrique), chamou-o a casa, bem como ao pai, perguntando-lhes se estavam dispostos a que, doravante, o rapaz não se chamasse mais Henrique, isto é, a trocar de nome. Passaria ser para toda a gente o Zé.  Em compensação, durante dois dias, filho e pai podiam ir a casa de D. Sara comer uma fatia de pão barrado, com arrobo. E eles aceitaram…
Altino Ribeiro jurou-me que isto não é inventado ou anedota.

E a história do papel higiénico?
Vou contar. O papel higiénico era objeto de racionamento, em casa da família de Altino Ribeiro, em Alpedriz. Utilizava-se normalmente qualquer papel que se encontrasse à mão, fosse de jornal ou de embrulho. No campo, as pessoas utilizavam a erva, folhas de árvores ou ramagens…
Um dia, com os seus doze anos, Altino depois de satisfazer uma necessidade inadiável, utilizou uma folha de jornal que estava a jeito. Hoje ainda se recorda (já lá vão cerca de oitenta anos), que essa folha era do jornal República, aquele que se lia em casa do avô materno, Ceslau Ribeiro dos Santos, uma republicano militante e assumido. A circunstância que levou o Sr. Ceslau a ficar irritadíssimo e a descompor o inocente neto, decorreu do facto de a folha que o rapaz utilizou, conter a fotografia de Franklim D. Roosevelt (Presidente dos EUA).

Mesmo depois de terminada a Guerra na Europa, a vida em Portugal não melhorou logo.
O racionamento manteve-se. A população era vítima da ganância, especulação e traficância de alguns comerciantes, que uns oportunistas apelidavam de mercado livre, mas outros bem sacrificados de mercado negro.
A falta de arroz sentiu-se bastante em Alcobaça, pelo menos, no verão de 1946. Isto é, só faltava o arroz que deveria ser vendido ao preço da tabela, pois que de sacos estavam as lojas cheias. O azeite, que antes nunca faltara, também era agora objeto de negócios escuros, tanto assim que pela mesma altura foi apanhado em flagrante pela GNR de Alcobaça, um homem da Murteira, que traficava indevidamente 365 litros, ao que se dizia, com destino a Caldas da Rainha.

NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE SALAZAR, CAETANO E OUTROS


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