quarta-feira, 16 de abril de 2014

-ELEIÇÕES DA A.N, EM 1969 (DISTRITO DE LEIRIA). AMÍLCAR PEREIRA DE MAGALHÃES E BASÍLIO MARTINS-


 
-ELEIÇÕES DA A.N, EM 1969 (DISTRITO DE LEIRIA).
AMÍLCAR PEREIRA DE MAGALHÃES E BASÍLIO MARTINS-
Fleming de Oliveira

Nas eleições para a Assembleia Nacional, em 1969, já com Caetano (a primeira eleição do marcelismo), participaram como candidatos a deputados pelo Distrito de Leiria indicados pelo regime, entre outros, o Dr. Amílcar Pereira de Magalhães, advogado em Alcobaça, o Dr. Tomás Oliveira Dias, advogado e empresário em Leiria e Meneses Falcão, empresário em Pombal.
O Dr. Amílcar Magalhães, embora sendo apoiante do regime nunca fez parte da UN, em 1969 concorreu na sua lista, na versão caetanista pré-A.N.P., após um convite formal do seu colega de curso e amigo, Dr. José Guilherme Melo e Castro.
Não sendo salazarista, tendo sobrevivido alguns anos à revolução do 25 de abril, poucas vezes dividiu redutoramente o mundo português em esquerdas e direitas. Essa forma de estar e pensar, encontra-se aliás, expressa numa entrevista que em 1969, concedeu à revista Vida Mundial. Sempre lhe ouvi  formular algumas reservas (mais ou menos consistentes), relativamente ao salazarismo, e bem vistas as coisas parecia ter nesse aspeto uma postura um pouco confusa, pois nunca se inseriu numa linha ideológica vigente.
Apreciava, indiscutivelmente, em Salazar a capacidade intelectual e de mestre jurista, e condescendia com o seu dedo em riste, apontado ao ouvinte ou interlocutor, para vincar a ideia. Todavia, não aceitou que essa oratória ou a praxis política, por mais bonitas ou empolgantes que fossem as intervenções ou palavras, fundamentasse um pretexto de violentar o cidadão.

De acordo com alguns depoimentos, o Dr. Magalhães ficou extremamente ofendido, quando o governo português decretou luto nacional pela morte de Hitler, no termo da II Guerra e assim o transmitiu à Câmara Municipal de Alcobaça, o que não foi então muito bem compreendido pelo ortodoxo Presidente Manuel da Silva Carolino.
Dadas as suas origens no campo (Porto do Carro), compreendia bem a mentalidade da sua gente e tinha-a bastante em conta, na vida profissional. Dizia que era perfeitamente inútil, pedir segredo ou um testemunho em tribunal a um homem de taberna. Cada um sabe que não poderia repetir o que ouvisse, mesmo que fosse indicado como testemunha. Argumentaria que nada sabia, estava tão bêbedo, que não se recordava de nada. E vinham logo os outros, muito pressurosos, entre os quais a mulher, a confirmar que o homem nem se aguentava em pé, teve que ser levado às costas e metido vestido na cama.
O Dr. Magalhães tinha muitos clientes na Nazaré e meio piscatório. Lembro-me de lhe ouvir contar que uma vez teve de intervir num processo, entre duas peixeiras que se mimoseavam:
- Sua porca, badalhoca!
- Eu? Que até tenho o cú mais lavado que o teu?

O Dr. Tomás Oliveira Dias, era em 1969 Presidente da Comissão Distrital de Leiria da UN.
Pediu exoneração das funções de vogal da Comissão Executiva da ANP e de Presidente da Comissão Distrital de Leiria, em julho de 1971, mas manteve-se na Assembleia Nacional. Depois do 25 de abril, foi em Leiria um dos fundadores do PPD/PSD e eleito deputado pelo PSD, lugar que não ocupou. Desvinculou-se há anos do PSD e apoiou Mário Soares, de quem foi mandatário no Distrito de Leiria, nas eleições presidenciais contra Cavaco Silva.

O recenseamento eleitoral para as eleições de 1969 foi atualizado. Caetano anunciara uma mudança no regime, embora na continuidade, e muito boa gente acreditou….
Basílio Martins, ao tempo estudante universitário em Coimbra, sempre ligado à oposição não acreditou e declara que a tomada de consciência dos problemas políticos, a perceção de que havia países onde as coisas corriam de forma diferente, surgia e ia crescendo através de conversas com amigos mais esclarecidos, da leitura e ouvindo, à socapa, a BBC ou a Rádio Portugal Livre, que emitia de Argel. Mas tudo isso, implicava perigo, nada era fácil nem seguro. Havia o medo de que alguém, informador da PIDE, estivesse a observar, se possível a escutar; muitos livros eram apreendidos pouco depois de chegar ás livrarias, e só os conseguíamos obter porque os livreiros, cá a Tabacaria Rossio ou a Império, em Leiria a Martins, se apressavam a esconder alguns exemplares para clientes de confiança. Sempre em segredo e com risco. (…) Clandestinamente o Jornal Avante aparecia em fábricas e outros locais, tal como comunicados do sector dos católicos progressistas denunciando a situação da época e protestando contra a guerra colonial. A prisão, acompanhava de tortura, eram um risco permanente e um fator de medo. Em qualquer altura se podia ver a residência invadida por agentes da PIDE, em busca de documentos comprometedores; havia quem nunca tivesse a certeza de voltar ao convívio dos seus no fim do dia. E para muitos como os nossos referidos conterrâneos Albino Serrano, António Tereso, Artur Faria Borda, Gilberto Magalhães Coutinho, João Neves Vasco e outros, nomeadamente operários da Crisal, o regresso tardaria anos.
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE SALAZAR, CAETANO E OUTROS


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