SAUDADES
DE OUTRORA.
AS
CANTIGAS DE NINAR
Fleming
de Oliveira
Saudades
do antigamente?
Às
vezes, tenho uma saudade enorme do tempo em que as mulheres eram donas de casa
e os homens chefes de família. Por
favor caros leitores, não fiquem incomodados com esta linguagem ao que parece fora
de moda, eventualmente considerada como bafienta, se não mesmo reacionária. Sei
que não se pode andar para trás, e nem acho que o caminho seja esse, mas posso
considerar ainda assim algumas coisas boas que existiam e, quem sabe,
adaptá-las na medida do possível aos nossos dias.
Presentemente,
a mãe quase não tem tempo para os filhos (coisa que as avós têm sempre), pois
precisa trabalhar fora de casa. A sua correria mal lhe permite momentos de
descontração em família.
Muitas
vezes estão todos juntos, embora cada qual numa sala. A mãe na cozinha, o pai
na sala, o filho no quarto a mexer no computador.
Antigamente
não era assim. Havia, aparentemente pelo menos, mais proximidade e calor nos
lares. As mulheres (e então que dizer das avós?) sabiam cozinhar e fazer coisas
apetitosas. O pai e os filhos adoravam os seus petiscos e visitas de familiares
chegavam por vezes sem avisar, para almoçar atraídos pelo aroma que vinha da
cozinha.
As
mulheres costuravam as roupas da família e os maridos trabalhavam para angariar
o sustento aos seus. Ambos tinham orgulho em possuir uma família equilibrada e
feliz. Faziam os possíveis e impossíveis para que os filhos pudessem estudar e
tivessem brinquedos.
Hoje
em dia, por mais que se esforcem, não lhes sobra tempo (e dinheiro), pois todo faz falta. Ambos
trabalham como loucos, dormem mal, comem correndo, vivem ansiosos e com medo do
futuro. Parece que todos lhes exigem mais e depois ainda mais. A esposa
insatisfeita, os filhos consumistas, o patrão ávido por lucro. Já não se sabe
onde buscar refúgio nos momentos de desolação.
Onde
será que nos perdemos?
Nos
dias que correm muitos jovens casais constroem casas, mas não de forma empenhada
na edificação do lar, porto seguro para a criação dos filhos e convívio em
família.
E
sofrem pelos desencontros que poderiam ser evitados, se a visão não estivesse
obstruída pelo hedonismo, onde cada qual busca somente o seu prazer.
Tenho
saudades das bolachinhas, biscoitos ou compota de amoras da Mãe, dos passeios
com o Pai, das reuniões em família, … das cantigas de roda.
Quem
não se lembra da infância e das cantigas de roda, das cantigas de ninar que se
aprendiam? Aprendiam-se em casa com os avós, com as mães, na escola com o
professor primário, e era sempre uma alegria quando alguém sugeria cantar uma
música.
Atualmente,
as cantigas de roda não são cultivadas, pois foi hábito que se perdeu em casa.
Recordarei
apenas duas:
Atirei o pau ao gato, tô, tô//mas o gato,
tô, tô//não morreu, reu, reu //dona Chica, cá, cá //assustou-se, se //do berrô,
do berro, que o gato deu. //MIAU!
Ó malhão, malhão,//que vida é a tua?//Ó
malhão, malhão,//que vida é a tua?//Comer e beber, ó terrim, tim, tim,//passear
na rua//comer e beber, ó terrim, tim, tim,//passear na rua.
Ó malhão, malhão,//ó malhão d'aqui,//ó
malhão, malhão,//ó malhão d'aqui,//se dançar, dancei, ó terrim, tim, tim,//se
fugi, fugi//se dançar, dancei, ó terrim, tim, tim,//se fugi, fugi.
Ó malhão, malhão,//ó malhão vai ver,//ó
malhão, malhão,//ó malhão vai ver,//as ondas do mar, ó terrim, tim, tim,//ai,
onde vão ter//as ondas do mar, ó terrim, tim, tim,//ai, onde vão ter.
Ó malhão, malhão,//ó malhão do Norte,//ó
malhão, malhão,//ó malhão do Norte,//quando o mar está bravo, ó terrim, tim,
tim,//faz a onda forte//quando o mar está bravo, ó terrim, tim, tim,//faz a
onda forte.
Ó malhão, malhão,//ó malhão do Sul,//ó
malhão, malhão,//ó malhão do Sul,//quando o mar está manso, ó terrim, tim,
tim,//faz a onda azul//quando o mar está manso, ó terrim, tim, tim,//faz a onda
azul.
Tenho,
sim, muitas saudades do antigamente!
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE
SALAZAR, CAETANO E OUTROS
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