A LUZ
ELÉCTRICA EM ALCOBAÇA E ALFEIZERÃO
COM A
VERDADE ME ENGANAS…
Fleming
de Oliveira
Por
esse tempo, ainda não havia luz elétrica em Alfeizerão, como em geral no
concelho de Alcobaça. A iluminação
pública era feita com candeeiros a petróleo (grandes e bonitos), colocados nas
esquinas. O País estava muito atrasado e o Concelho não era uma exceção, não
obstante na sede do concelho a luz elétrica ter sido inaugurada em 1905, aliás,
no mesmo ano que Barcelos.
No
último quartel do século XIX, dera-se o início à produção e distribuição
industrial de eletricidade, com o aparecimento de instituições públicas e
privadas, agências estatais, municipais, empresas, grupos profissionais,
associações de classe (desde as associações industriais e comerciais aos
sindicatos) e também de consumidores que, em conjunto, deram forma a uma
indústria, estabeleceram fronteiras, construíram os seus standards
organizacionais, tecnológicos, culturais. Logo nessa altura, uma das mais
importantes aplicações industrializadas, foi a iluminação elétrica. As
primeiras redes de distribuição e antes destas, os primeiros sistemas de
produção isolada da época, destinavam-se a gerar eletricidade para iluminação.
As redes estiveram mais associadas à iluminação de ruas e vias públicas e as
produções isoladas, à iluminação de fábricas, hotéis, teatros.
Mas
isso era noutros locais do País, as grandes urbes, que não Alcobaça.
O Camafego (talvez corruptela de camafeu) que José Tempero chegou a conhecer, avô
de Manuel Vizoso, que foi Presidente da Junta , era quem todos os dias ia a
cada candeeiro, com uma escada e com uma medida, deitar a quantidade necessária
de petróleo para satisfazer as necessidades de uma noite.
Aceso
um candeeiro, o Camafego passava ao
seguinte. A determinada altura (por pura malandrice que se crê), alguém
arranjou um molho de papel enrolado com uns cordões e com uma ponta a fingir
ser um fio de detonador, que dependurou num candeeiro. Quando o Camafego subiu ao candeeiro e ao ver
aquilo que tinha todo o aspeto de uma bomba, desceu prontamente e comentou em
voz alta quem te pôs aí que te acenda.
Nessa
noite não houve iluminação pública em Alfeizerão.
O
fornecimento generalizado de luz elétrica no concelho de Alcobaça começou
tardiamente, mais propriamente na segunda metade séc. XX. Até aí, os
alcobacenses de Évora, Turquel, Maiorga, Alpedriz, Alfeizerão ou os serranos,
usavam para sua iluminação, candeias de azeite, candeeiros de petróleo,
lanternas e petromaxes. As candeias de azeite eram muito simples, feitas de
lata e possuíam um bico, que suportava uma torcida, feita dum pouco de pano.
Produziam uma fraca luz, eram leves e penduravam-se num prego ou num local à
mão. Nos lagares e adegas, usava-se preferencialmente uma candeia de azeite de
maior volume, com quatro bicos e torcidas.
Os
alunos estudavam em casa à luz de candeeiros a petróleo, tal como as senhoras
faziam malha, costura ou a lide da casa.
Quando
se fala de petróleo relativamente a candeeiros, para sermos mais precisos
deveríamos dizer mais querosene, petróleo de iluminação. Hoje obviamente não se
usa. É um líquido avermelhado, de cheiro característico, que se vendia nas
mercearias.
As
candeias e os candeeiros funcionavam com uma torcida embebida em parte no
combustível, que subia ao longo desta. Quando se acendia a ponta da torcida, a
chama produzida ia consumindo o combustível e a torcida e emitia algum fumo,
como refere Tempero.
Os
candeeiros a petróleo eram, geral, de vidro. Alguns tinham um pé alto, como os
utilizados com finalidade meramente decorativa. As torcidas vendiam-se nas
mercearias, drogarias e estabelecimentos semelhantes. Podiam fazer-se subir ou
descer por meio duma roda exterior ligada a outra que tinha dentes e estava em
contacto com as torcidas. Estes candeeiros tinham chaminés de vidro que
protegiam as chamas.
Para
acender um candeeiro a petróleo, retirava-se a chaminé e chegava-se à torcida
um fósforo. Para apagar o candeeiro, levantava-se a chaminé e apagava-se a
chama com um sopro.
Nas
casas havia, em geral, suportes para os candeeiros a petróleo, aliás, colocados
estrategicamente onde era mais cómodo e útil, como por exemplo, a mesa de
cabeceira do quarto de dormir, a mesa de refeição ou ao pé do lume.
Havia
candeeiros a petróleo apropriados para usar na rua ou em palheiros munidos de
uma pega para transporte. Podia-se levantar e baixar a chaminé por meio duma
mola. Com a mesma finalidade se podiam usar as lanternas, em que quatro vidros
laterais protegiam a chama. As charretes tinham lanternas redondas Um lampião
era uma grande lanterna fixa no teto ou numa parede.
Para
obter uma luz forte usava-se um petromax que tinha que ser manejado com
cuidado, porque a camisa se desfazia com facilidade.
A eletricidade
não estava de todo ausente do Concelho de Alcobaça até à II Guerra e alguns
anos seguintes. Havia lanternas elétricas, chamadas comumente foxes qjue eram
usadas para iluminar o caminho. Em noites sem lua, os caminhos especialmente os
rurais eram percorridos, antes da chegada da luz elétrica, em completa
escuridão. No entanto, as pessoas como que tinham uma espécie de instinto inato
que lhes permitiam pôr sempre o pé, no sítio certo e seguir os percursos corretos.
O Pe.
João Matos Vieira, que esteve em Alfeizerão durante várias décadas, natural do
Alentejo, foi interveniente numa estória,
que José Ferreira Tempero recorda como uma, onde se pode aplicar o rifão com a verdade me enganas.
O
Padre tinha uma mula quase cega, e que também sofria de pulmoeira. O Padre
decidiu então, desfazer-se no animal e vendê-lo. Aproveitando um dia de feira,
em Alfeizerão, disse ao criado para levar a mula à feira e tentar vende-la pelo
melhor preço possível. A mula não obstante aqueles defeitos, estava bem
apresentada, com uma pelagem bonita. O Padre estava dividido entre dizer ou não
a verdade acerca do estado do animal, o que desvalorizava quase totalmente o
negócio. Em breve, começaram a aparecer eventuais interessados, mas o criado
dizia logo que não era ele quem mandava, mas o Padre que estava ali perto, que
fossem falar com ele. Até que uns ciganos foram ter com o Padre, que lhes disse
que não lhes vendia a mula, pois era quase cega, e tinha pulmoeira. Se eu vos vendesse a mula, sem dizer nada,
amanhã vinham-me dizer que os tinha enganado, e não quero ser disso acusado.
Quanto
mais o Padre dizia que a mula tinha defeito, que não os queria nem podia
enganar, e que portanto não pretendia vende-la, mais eles insistiam, subindo a
parada. Os ciganos estavam a supor que o Padre não lhes queria vender o animal,
que era muito bom, por serem ciganos. Depois de muita insistência, acordado o
preço, acabou por ser fechado negócio. No dia seguinte, pela manhã, os ciganos
apareceram com a mula pela arreata, pedindo para falar com o Senhor Prior, então Senhor Prior a mula é cega e tem
pulmoeira. O Senhor Prior tem que ficar com a mula a dar-nos o dinheiro de
volta.
-O dinheiro? Então eu falei-vos verdade
sobre o estado do animal e nunca vos quis enganar.
-Mas nós pensávamos que o Senhor Prior não
nos queria era vende-la.
Perante
tanta insistência e começo de uma menos interessante pressão, o Padre disse
para a irmã oh Adília! chama aí a .GN.R.
de S. Martinho, que estes senhores estão-me a incomodar. Nesta altura, a
G.N.R. tinha efetivamente alguns meios persuasórios,
que os ciganos, na dúvida, não queriam experimentar.
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE
SALAZAR, CAETANO E OUTROS
Por
esse tempo, ainda não havia luz elétrica em geral no concelho de Alcobaça. A
iluminação pública era feita com candeeiros a petróleo (grandes e bonitos),
colocados nas esquinas. O País estava muito atrasado e o Concelho não era uma
exceção, não obstante na sede a luz elétrica ter sido inaugurada em 1905,
aliás, no mesmo ano que Barcelos.
No
último quartel do século XIX, dera-se o início à produção e distribuição
industrial de eletricidade, com o aparecimento de instituições públicas e
privadas, agências estatais, municipais, empresas, grupos profissionais,
associações de classe (desde as associações industriais e comerciais aos
sindicatos) e também de consumidores que, em conjunto, deram forma a uma
indústria, estabeleceram fronteiras, construíram os seus standards
organizacionais, tecnológicos e culturais. Logo nessa altura, uma das mais
importantes aplicações industrializadas, foi a iluminação elétrica. As
primeiras redes de distribuição e antes destas, os primeiros sistemas de
produção isolada da época, destinavam-se a gerar eletricidade para iluminação.
As redes estiveram mais associadas à iluminação de ruas e vias públicas e as
produções isoladas, à iluminação de fábricas, hotéis, teatros.
Mas
isso era noutros locais do País, as grandes urbes, que não Alcobaça.
O
fornecimento generalizado de luz elétrica no concelho de Alcobaça começou
tardiamente, mais propriamente na segunda metade séc. XX. Até aí, os
alcobacenses de Évora, Turquel, Maiorga, Alpedriz, Alfeizerão ou os serranos,
usavam para sua iluminação, candeias de azeite, candeeiros de petróleo,
lanternas e petromaxes. As candeias de azeite eram muito simples, feitas de
lata e possuíam um bico, que suportava uma torcida, feita dum pouco de pano.
Produziam uma fraca luz, eram leves e penduravam-se num prego ou num local à
mão. Nos lagares e adegas, usava-se preferencialmente uma candeia de azeite de
maior volume, com quatro bicos e torcidas.
Os
alunos estudavam em casa à luz de candeeiros a petróleo, tal como as senhoras
faziam malha, costura ou a lide da casa.
Quando
se fala de petróleo relativamente a candeeiros, para sermos mais precisos
deveríamos dizer mais querosene, petróleo de iluminação. Hoje obviamente não se
usa. É um líquido avermelhado, de cheiro característico, que se vendia nas
mercearias.
As
candeias e os candeeiros funcionavam com uma torcida embebida em parte no
combustível, que subia ao longo desta. Quando se acendia a ponta da torcida, a
chama produzida ia consumindo o combustível e a torcida e emitia algum fumo,
como refere Tempero.
Os
candeeiros a petróleo eram, geral, de vidro. Alguns tinham um pé alto, como os
utilizados com finalidade meramente decorativa. As torcidas vendiam-se nas
mercearias, drogarias e estabelecimentos semelhantes. Podiam fazer-se subir ou
descer por meio duma roda exterior ligada a outra que tinha dentes e estava em
contacto com as torcidas. Estes candeeiros tinham chaminés de vidro que
protegiam as chamas.
Para
acender um candeeiro a petróleo, retirava-se a chaminé e chegava-se à torcida
um fósforo. Para apagar o candeeiro, levantava-se a chaminé e apagava-se a
chama com um sopro.
Nas
casas havia, em geral, suportes para os candeeiros a petróleo, aliás, colocados
estrategicamente onde era mais cómodo e útil, como por exemplo, a mesa de
cabeceira do quarto de dormir, a mesa de refeição ou ao pé do lume.
Havia
candeeiros a petróleo apropriados para usar na rua ou em palheiros munidos de
uma pega para transporte. Podia-se levantar e baixar a chaminé por meio duma
mola. Com a mesma finalidade se podiam usar as lanternas, em que quatro vidros
laterais protegiam a chama. As charretes tinham lanternas redondas Um lampião
era uma grande lanterna fixa no teto ou numa parede.
Para
obter uma luz forte usava-se um petromax que tinha que ser manejado com
cuidado, porque a camisa se desfazia com facilidade.
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