-O EXTRAVAGANTE
VITORINO AVELAR FRÓIS,
JOSÉ TANGANHO E
CONCHITA CITRON.
O PÃO DE LÓ DE
ALFEIZERÃO.
A VOLTA A PORTUGAL
A CAVALO (1925).-
Fleming de Oliveira
Vitorino de Avelar Fróis, natural e residente em
Alfeizerão, abastado proprietário rural da Quinta Nova de S. José, agricultor e
criador de gado bravo, foi nos primeiros anos do século XX, um dos mais
distintos e famosos cavaleiros tauromáquicos do País.
Pessoa muito estimada, de fino trato e bem relacionada (era
das relações do Rei D. Carlos que o chegou a visitar mais que uma vez em Alfeizerão
e ali fazer piqueniques), com uma personalidade vincada, marialva e
extravagante, de farto bigode retorcido e bem apessoado, tinha a fama (embora
não saibamos se o proveito), de ser um apreciador do belo sexo, pertenceu a uma
família de cavaleiros tauromáquicos profissionais, tal como seu pai, embora
este não tivesse atingido tanta projeção.
Extravagante?
Fróis tinha na sua ganadaria um touro que começou a ser
amestrado logo à nascença.
Quando havia visitas na quinta e Vitorino Fróis as
queria impressionar, avisava que tinha uma surpresa, mas que para isso, seria
em absoluto necessário que todos se mantivessem tão calados e sossegados,
quanto possível. Então mandava o animal entrar na sala, seguro por umas cordas
(por mera precaução), por dois empregados, a fim de dar a volta à mesa. Os
convidados ficavam estupefactos, assustados nalguns casos, e as senhoras davam
gritinhos histéricos. Na verdade, em termos de corpulência e cor, nada
distinguia esse animal de qualquer outro bravo toiro de lide.
D. Carlos está, segundo se diz, associado à receita do
Pão de Ló de Alfeizerão. A história conta-se em breves palavras. Diz-se que
este cartão de visita da doçaria do Oeste, foi criado a partir de um erro de
fabrico, no final do século XIX, aquando de uma visita de D. Carlos a S.
Martinho do Porto e a Alfeizerão. Parece que uma das empregadas estava tão
nervosa com a visita real, que tirou o pão-de-ló antes do tempo habitual de cozedura.
Mas afinal, o resultado foi que o erro, ficou melhor que o original. A receita
teria sido foi levada para a antiga vila piscatória de Alfeizerão pelas
religiosas do Mosteiro de Cós, a variante feminina dos monges cistercienses de
Alcobaça. Apesar da antiguidade da receita, a fama só veio no início do século
XX, com a utilização de S. Martinho do Porto como estância de férias para as
classes altas e de todos os que paravam em Alfeizerão, sito na antiga estrada
Porto-Lisboa.
Fróis como recorda José Tempero, costumava dizer eu não morro, nem que me matem, faleceu
por alturas de 1938 e encontra-se sepultado em Alfeizerão. Exibicionista?
Preparou a sua última morada, de uma forma meticulosa e com antecedência. Como
tinha muitos pinhais, mandou atempadamente cortar o seu melhor pinheiro, que em
seguida foi serrado em pranchas, para fazer um caixão à precisa medida.
Antigamente, os caixões não eram de tamanho tipo, indo o cangalheiro a casa colher as medidas do defunto. As tábuas
do futuro caixão, encontravam-se guardadas num armazém/palheiro da quinta, ao
lado de uma lápide em mármore com o nome, data de nascimento e, em aberto, a
data do falecimento. Esta lápide ainda existe no cemitério de Alfeizerão.
O
saudoso cavaleiro dos anos cinquenta, João Branco Núncio (alcunhado o Califa de
Alcácer), muito mais tarde, numa entrevista em que lhe foi perguntado o que
pensava do toureio, a cavalo, respondeu que, vejo-o como uma manifestação artística que, pelas suas dificuldades e
emoções, nos prende e apaixona até ao mais fundo da nossa alma.
-Encontra
alguma explicação para a sua aficion?
-Creio que em parte a minha aficion, ao
toiro, teve o seu início nas faenas da amancia, dos bois bravos, para o
trabalho. Além disso a leitura da revista La Lídia, que meu avô materno assinava, também não é estranha ao facto.
-Quais
as diferenças e semelhanças, entre o toureio montado e o apeado?
-Fundamentalmente não lhe vejo diferença,
acho até que as regras básicas que os regem são as mesmas.
-O seu
modo característico de tourear foi inspirado por alguém?
-Dediquei atenção a todos os toureiros que
vi, mas, muito em especial, ao Sr. Vitorino Fróis que executava o toureio de maneira diferente. Aquilo que vi aos outros
tentei aproximá-lo mais do toureio a pé, não esquecendo que, apesar de estarmos
a cavalo, há necessidade absoluta de saber interpretar o toiro.
João
Núncio deu, um importante contributo, para a divulgação da corrida de touros à
portuguesa, no estrangeiro.
É
sabido que os touros na Europa são lidados em Espanha, Portugal e no Sul de
França. Por alturas de 1966, João Núncio foi convidado a fazer uma corrida na
praça de Bayonne, o que fez montando o famoso Quo Vadis. Segundo reza a história, foi a primeira corrida à
portuguesa, realizada em França. Posteriormente, muitos cavaleiros, toureiros e
forcados portugueses atuaram em praças francesas.
Afinal
o contributo de Vitorino Fróis em João Branco Núncio, foi relevante no sentido
de este transformar o toureiro a cavalo em Portugal e no estrangeiro. O seu
descendente, José Luís Núncio Fragoso opinou que nos inícios do século XX, dá-se a reposição da sorte de caras, por
força de uma atuação de Vitorino Fróis, ante
touros da ganadaria do Rei D. Carlos, num momento em que se tenta impor o touro
puro para toureio equestre.
Touros
puros eram aqueles que nunca haviam sido corridos. Ora se um touro já foi
toureado, na vez seguinte, já percebe o que vai acontecer, e então o toureiro
tem de jogar às escondidas com ele.
Sobre
Vitorino Fróis, o crítico A. Vasco Lucas escreveu em 1995, ao que supomos nessa
linha de entendimento, que (…) o toureio
a cavalo poderá dividir-se em duas partes distintas, ou seja, antes e depois de
João Núncio, pois foi o génio deste que marcou a grande viragem da tauromaquia
equestre, transportando para esta os conceitos e regras da revolução belmontina
operada no toureio apeado. Assim antes do Califa de Alcácer, os touros eram lidados sem apuros
técnicos, corridos a dar a cova e
farpeados sem o aguentar e o carregar das sortes, nem o domínio e tempo das
investidas. Logo foi com com a conceção nuncista, ténue e anteriormente
vislumbrada por Vitorino Fróis, que
surgiu o tourear de caras, única
sorte onde existem todos os tempos de toureio (…).
A
relação de Vitorino Fróis com a casa real e o rei D. Carlos advinha também do
interesse de ambos pela Festa Brava. A ganadaria da Casa de Bragança estava
situada no Alentejo, aonde Vitorino Fróis ia por vezes e a manada, no ano de
1901, que pastava em Ameixieira, era composta por 75 cabeças. As vacas eram
oriundas de uma ganadaria espanhola e das ganadarias portuguesas de Máximo
Falcão e Emílio Infante da Câmara. O primeiro semental, segundo José Tanganho, foi o toiro Caraça, com ferro Infante da Câmara, que
foi lidado em praça, por Vitorino Fróis, e foi depois corrido mais 10 vezes,
facto espantoso pois, normalmente, hoje em dia é ponto de honra (não sabemos
mesmo se de lei) que nenhum touro pode ser lidado mais que uma vez. Este animal
veio a ser pegado de caras por D. Carlos, num festival taurino na sua herdade,
onde foram convidados vários dos seus amigos como Simão da Veiga (pai), Conde
de Arnoso, José Calazans (forcado), Duarte Pinto Coelho, Teodoro Gonçalves,
Vitorino Fróis e Alfredo Marreca.
Conta-se
(há quem como o falecido António Guerra, da Maiorga, diga que é lenda) que no
auge da fama, Vitorino Fróis foi fazer uma corrida a Espanha, o que aliás
acontecia com regularidade, estimulada pela tradicional rivalidade entre
portugueses e espanhóis, bem como pela respetiva aficion. Antes do início da corrida, o seu encarregado dos cavalos,
veio comunicar-lhe que tinha visto um indivíduo, às escondidas, a aguçar com
uma grosa, os chifres do toiro que lhe saíra na sorte para lidar. Perante isto,
Fróis ordenou ao empregado que fosse, de pronto, comprar duas navalhas de ponta
e mola e que depois, também sem que ninguém o visse, as amarrasse abertas nos
cornos do boi. Quando o corpulento e negro animal de quinhentos e muitos
quilos, entrou a babar-se na arena e o público se apercebeu da situação, entrou
como que em histeria. Vitorino Fróis saiu-se muito bem, sem que as pontas das
navalhas tocassem ainda que ao de leve o cavalo, pelo que no fim da lide, foi
na boa tradição tauromáquica espanhola, levado da arena em ombros.
Perante
tamanho arreganho, Fróis foi convidado por um grupo de aficionados para um
jantar de homenagem. Estando já todos à mesa, um empregado negro abeirou-se
dele e disse-lhe subtilmente que não jantasse, porque corria o risco de ser
envenenado… Fróis arranjou uma desculpa qualquer, e já não assistiu ao jantar.
No dia seguinte, convenceu o negro a ir morar para a quinta de Alfeizerão e, ao
mesmo tempo, comunicou à família e empregados, entre os quais o feitor António
Tempero Júnior (pai de José Tempero) que aquele iria por lá ficar enquanto
quisesse, com direito a cama, mesa e roupa lavada. E assim foi durante alguns
anos até que acabou por regressar à sua terra.
Quando
o feitor Tempero, cessou funções na Quinta Nova de S. José para se dedicar ao
comércio e agricultura, foi sucedido por José Bernardo Tanganho, que granjeou alguma fama como cavaleiro tauromáquico, e
especialmente depois de vencer, em Outubro de 1925, o Circuito Hípico de Portugal, uma volta a Portugal a cavalo, prova
muito dura, montado no Favorito,
aonde participaram 45 concorrentes, dos quais apenas 3 não eram militares. Como
foi isso? Numa entrevista de Tanganho,
nos anos sessenta, ao Século Iustrado
contou que, estava eu um dia nas Caldas
da Rainha, com o tenente-coronel José Mousinho…José Mouzinho, (…, era genro de Vitorino Fróis, que foi o
nosso primeiro mestre do toureio a cavalo. Creio que ainda era da família do
Mouzinho de Albuquerque… Bom. Estávamos nós a tomar café na barraca de um judeu
qualquer, quando vimos passar a cavalo o capitão Silva Dias. Vejo-o todos
os dias-disse eu-Que é que ele anda a
fazer? Anda a treinar o cavalo para o
raid-explicou-me o José Mouzinho. Qual
raid?! A volta a Portugal a cavalo. Cá para mim, resolvi logo. -Também vou
entrar nisso. Tenho uma égua que não há quem possa com a vida dela. Era a égua de uma tipóia de aluguer que eu
me governava. Mas toda a gente me queria tirar aquilo da cabeça: -Tu és
doido? Os militares andam a treinar os cavalos há três meses e já só faltam
quinze dias…
E
prosseguiu: Agarrei no animal e, sem
parar, fui com ele das Caldas a Alcobaça, Nazaré, S. Martino, Foz do Arelho,
Peniche…Mas acabei por desistir da égua, quando vi que ela tinha uma assentadura.
Nessa altura, quando viram que eu tencionava mesmo levar a minha por diante,
apareceram-me várias pessoas a oferecer cavalos. Escolhi o do lavrador António
Joaquim, do Cartaxo, um cavalo que andava também engatado a uma charrette, e
levei-o das Caldas à Foz do Arelho. Quando lá cheguei, fiquei uns dez ou doze
dias em exercícios: amarrava o cavalo a uma bateira e punha-o a fazer força
para ganhar pulmão.
O País
vibrou com o raid que se disputou, durou dezoito dias, sob sol e chuva, umas
vezes a pé, outras a cavalo montado.
Inicialmente passou desapercebido, mas aos poucos foi criando interesse pela
rivalidade entre o capitão Rogério Tavares e o civil José Tanganho. Afirmava-se, que o
civil estava a dar água pela barba ao militar. Sob aplausos frenéticos das
pesoas por onde passava, percorreu as
quatro partidas de Portugal (do Minho ao Algarve). Rompi três pares de botas
em dezoito dias… Andava dez metros a
cavalo e vinte a pé, para o animal se aguentar. E percorria 100, 150 e até 250 quilómetros por
dia, sem horário fixo. Alguns casos que aconteceram durante a prova, foram
curiosos e ficaram registados. Na etapa Odemira-Monchique, que deveria ser
através da serra, o guia, que devia acompanhar os concorrentes, não conhecia o
caminho, pelo que andaram perdidos, até darem com o casebre de um pastor. O
percurso de Moncorvo a Bragança foi feito debaixo de um autêntico dilúvio. Em
Arcos de Valdevez, não havia cavalariças, nem ração, mas isso foi devido a
razões políticas. Ao chegar a Vila Franca de Xira, o meu cavalo o Favorito
começou a fraquejar e houve quem me desse uma garrafa de vinho do Porto para o
animal beber e arribar (isto é uma sopa de cavalo cansado). O cavalo bebeu e passados alguns metros
estava com uma grande bebedeira…E para ali vim eu, com o cavalo a curti-la…Tive
de o trazer à mão e foi assim que o capitão Rogério Tavares chegou a Lisboa em
primeiro lugar, isto é, à minha frente.
No dia
da chegada a Lisboa, apesar da chuva miudinha que caía, os caminhos que levavam
ao Pote de Água tinham grande movimento, bem como o Campo Grande. Ao passar um
grupo de cavaleiros que constituíam a guarda avançada, dizia-se que era o
capitão Tavares que iria ganhar. Quando este passou, o povo ficou em silêncio,
ninguém queria acreditar. Nessa altura José Tanganho
vinha ainda a cerca de 7
quilómetros , a pé, com o cavalo pela mão, consolado por
um grupo de apoiantes, que davam vivas ao que consideravam ser o vencedor moral. Quando finalmente chegou ao Campo
Grande, dois bombeiros quiseram oferecer a Tanganho um cálice de porto, mas o
multidão desvairada ao ver fardas gritava: Não
bebas que te querem envenenar. Acontece que tendo o cavalo Emir, pertença do capitão Tavares,
morrido durante a noite, ao que se diz por cansaço, Tanganho sagrou-se vencedor do raid pois, ficou à frente nas provas
finais do Jockey Club (trote e saltos de
sebes). Foi o delírio no meio. O
público invadiu a pista do Jockey Club, levou Tanganho em triunfo, organizou um grandioso cortejo até à Câmara
Municipal onde estava preparada uma receção para consagração dos vencedores e
entrega de prémios A classificação final ficou assim ordenada :1º)- José Tanganho; 2º)- Ten. Brandão de Brito;
3º)- Cap. Silva Dias.
Daí em
diante, Tanganho foi contratado para
se exibir no Coliseu de Lisboa e Palácio de Cristal, do Porto, ganhando por
cada exibição o cachet de vinte mil escudos, quantia muitíssimo elevada
(milionária?) para a época.
A 8 de Outubro, Castello Lopes
estreou, no cinema Condes, O Bicho da
Serra de Sintra, filme de Artur Costa de Macedo (também diretor de fotografia)
e João de Sousa Fonseca (argumentista e protagonista), para Sociedade do
Turismo de Sintra. Em complemento projetou-se, Touradas Portuguesas, com os distintos artistas cavaleiros Simão da Veiga (Filho), D.
Ruy da Câmara, António Luís Lopes e José Tanganho. No dia 16 de Novembro, o Cinema Tivoli, em Lisboa,
estriou o documentário de atualidade, Circuito Hípico de Portugal.
Por
insistências de Vitorino Fróis, Tanganho veio
a tomar alternativa como cavaleiro tauromáquico, em 1926, no Campo Pequeno.
Durante algum tempo, onde se exibia, meninas prendadas tocavam ou cantavam a Marcha do Tanganho, cuja letra dizia: O Tanganho leva o cavalo e o cavalo leva o Tanganho e das janelas enfeitadas
nalgumas vezes com garridas colgaduras, despejavam sobre o herói bandejas e
açafates de pétalas. Por instâncias da mulher, abandonou a tauromaquia ao fim
de algum tempo, regressando a Caldas da Rainha, de onde era natural.
Tanganho, ainda
foi preparador de cavalos, da conhecida e graciosa cavaleira tauromáquica
Conchita Citron nascida no Chile, embora por muitos considerada peruana, dado
neste país ter vivido desde muito nova, e que nos anos cinquenta atingiu
notoriedade em Portugal e frequentou Alfeizerão com assiduidade. Conchita
Citron também deixou marca, entre nós, como a criadora do cão de água
português, raça em vias de extinção. Cochita Citron veio para a Europa para
taurear em Espanha, o que lhe não foi permitido pelo franquismo por ser mulher.
Tanganho, depois de ter estado a
trabalhar durante cerca de dez anos em Moçambique, faleceu na casa de David
Ribeiro Teles, no Ribatejo, no Monte do Biscainho (12 de fevereiro de 1968). No
dia seguinte, O Século publicou a notícia na secção de necrologia, além de lhe
ter dedicado uma página de homenagem.
Vasco
Bensaúde foi um homem discreto, embora muito rico, e criador de cães,
registados todavia em nome do filho Filipe e como tal apresentados em
exposições. A certa altura, tomou conhecimento da existência de uma bem
sucedida criadora de perdigueiros portugueses, Conchita Citron, que havia
casado com o aristocrata português, D. Francisco Castelo Branco. Esta, impedida
pelas leis espanholas de ser matadora de touros, tornou-se cavaleira
tauromáquica, e veio viver para Portugal.
Bem
sucedidos foram os seus perdigueiros portugueses, que criava na quinta situada
na margem sul do Tejo, a Quinta do Índio (reminiscências da sua origem?). Um
dia Bensaúde, convidou Conchita Citron e marido para almoçar, onde lhe fez a
oferta de ficar com o seu canil, como herança. Conchita nunca mais viu Vasco
Bensaúde, nem os seus cães. Bensaúde veio a morrer em agosto de 1967 e mais
tarde, a família contactou-a para vir buscar (reclamar) a herança. Assim,
Conchita Citron, levou os 14 cães do canil Algarbiorum, de Bensaúde, para a Quinta do Índio, juntamente com os
respectivos ficheiros.
Registou
o seu novo canil, com o nome Al-Gharb Começou a criar e a apresentar os cães de
água em exposições e concursos. Achava que os esforços de Vasco Bensaúde na
seleção, recuperação e preservação da raça, mereciam ser reconhecidos e
considerando Portugal um país pobre de gente sem recursos para manter tão
maravilhosos cães, recusava-se a vende-los para o mercado nacional, sendo
apenas alguns oferecidos a pessoas de extrema confiança e jamais fêmeas. Bem
relacionada no estrangeiro, começou uma campanha de publicidade junto de
americanos ricos. Mas poucas fêmeas fugiram ao seu controle.
Com o
25 de abril, algumas pessoas sairam do país e abandonaram as propriedades que
eram ocupadas pelos trabalhadores e sindicatos. Foi o caso da Quinta do Índio, então com 32 cães de
água nos canis. Muitos dos animais foram
soltos ou fugiram e quando no fim do Verão de 1974, D. Francisco de Castelo
Branco conseguiu ir á propriedade, restavam 15 cães, a maioria gravemente
doente e com problemas de pele. Levou-os ao Canil Municipal de Lisboa para
abate, mas segundo o enfermeiro Fernandes, alguns poderiam ser salvos, tendo-se
assim recusado a abater 3.
D.
Francisco Castelo Branco levou de volta esses 3 cães mas nunca mais ninguém
soube deles.
Conchita Citron, portuguesa por casamento, pouco depois saiu do país com a família para o México, e não levou cão algum.
Conchita Citron, portuguesa por casamento, pouco depois saiu do país com a família para o México, e não levou cão algum.
José Tanganho faleceu algo esquecido, mas não
obstante o seu falecimento foi objeto de algum destaque no jornal O Século, que
lhe dedicou várias colunas e uma foto. De facto, haverá muitíssima gente, mesmo
em Alfeizerão, que já não se recorda nem do nome de José Tanganho.
Só em
1970 vai surgir em Portugal a primeira mulher toureira (a pé) profissional, que
aliás não fez grande carreira. Foi o caso de Ana Maria, natural de Azambuja,
que ficou assim conhecida na arena, como Ana
Maria d’Azambuja e que, com 16 anos, obteve a carteira profissional.
Azambuja, é terra onde há bastantes aficionados e apreciadores da tourada, bem
como a Tertúlia Tauromáquica Azambujense, sita numa antiga taberna, um museu
vivo que comprova a aficcion do homem
que um dia quis ser toureiro, mas o
coração não me deixou, confessa com a mão no peito para reforçar a nota.
Trata-se de António Salema, que coleciona na Tertúlia artefactos que dizem
respeito à festa brava. Para alimentar a sua paixão, usou a energia a ensinar
outros, como Ana Maria d’Azambuja. As fotos dos pupilos estão expostas a
comprovar o carinho do mestre pelos seus discípulos, onde a de Pedrito de
Portugal ocupa um lugar de destaque.
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