-MARCELO CAETANO E VEIGA SIMÃO NA
BENEDITA.
VÂNDALOS E
ICONOCLASTAS-
Fleming de Oliveira
Em 8 de abril de 1973, Marcelo Caetano, deslocou-se a Benedita numa visita particular, mas que se revelou de grande projeção, pelo apoio que lhe deram a Câmara Municipal, a Junta de Freguesia (em cuja sede descerrou uma lápide alusiva), Escolas, Filarmónica de Turquel, bem como a população em geral.
Deslocando-se
à Rua Heróis do Ultramar, Caetano
descerrou uma placa toponímica, tendo em
nome de antigos combatentes discursado o antigo furriel miliciano Manuel
Ferreira Castelhano, Secretário da Junta de Freguesia. Caetano visitou empresas
(tanto da indústria, como da agricultura),
o Centro Social e a Cooperativa de Ensino e Cultura, aonde foi cumprimentado
pelo Diretor Pedagógico, Gonçalves
Sapinho, demais membros dos corpos diretivos, pessoal docente e alunos e
assinou o Livro de Honra. A visita terminou no Salão Paroquial, aonde foi
servido um lanche.
José
Vinagre, sobre esta visita, recorda que em 1973 ocorreu a que seria a primeira
e última visita de Marcelo Caetano à Benedita, onde este referiu que depois de ter visto a realidade a nossa terra, deveria ser
tomada como exemplo do país, pelo dinamismo e vontade de progresso, na
resolução e empenho para os seus problemas, quer ao nível das dificuldades
financeiras, culturais e sociais.
A declaração
foi destacada na imprensa nacional e principalmente na imprensa de Alcobaça e
veio a ter importância no desenvolvimento, a curto prazo, da Benedita.
Acrescentou Vinagre, num depoimento que me prestou que, nesse mesmo dia, Marcelo Caetano descerrou uma placa toponímica com o
nome Rua Heróis do Ultramar e uma outra com o seu busto na praça principal de
Benedita. Quatro meses depois, já em plena revolução do 25 de abril, ambas as
placas foram destruídas por jovens entusiasmados pelo período revolucionário, o
que originou uma autêntica revolta popular, criando um descontentamento
generalizado na freguesia e que se veio a alastrar à cidade de Rio Maior e mais
tarde com consequências em Alcobaça, tanto no cerco ao edifício da Câmara
Municipal, bem como à sede do Partido Comunista Português.
Para
J. Vinagre, a visita de Caetano, e os acontecimentos revolucionários pós 25 de
abril, despertaram nele e outros jovens, um desejo de participação ativa na
sociedade.
À
visita esteve muito ligado Manuel Ferreira Castelhano.
Em
1971, fora eleito Presidente da Direção do Instituto da Nossa Senhora da
Encarnação, Cooperativa de Ensino e Cultura, Externato da Benedita, cargo que
exerceu durante vinte anos, quase ininterruptamente.
O
Governador Civil de Leiria, José Damasceno de Campos, convidou-o para fazer
parte da Junta de Freguesia. A esse convite, que o deixou admirado e honrado, respondeu inicialmente que por um lado era muito novo para essas andanças, já era Presidente da
Direção do Externato, que o ocupava muito tempo, era dirigente do futebol (Beneditense)
além de, ter outras atividades no âmbito
da Paróquia. Damasceno de Campos respondeu, oh amigo Manel, pois é precisamente por isso, que eu o quero convidar e
vc. vai aceitar.
E
assim, Castelhano acabou por aceitar, assumindo as funções de Secretário, num
executivo presidido por António da Silva Marques Santeiro (alcunha que vinha do tempo do avô, escultor artesanal que
fazia santos, de que ainda resta um no museu da Igreja da Benedita).
Castelhano
goste de salientar, que as suas atividades eram exercidas por puro gosto de participar e colaborar,
que tinha uma profissão e modo de vida pois, quando regressou do Ultramar, foi
trabalhar numa empresa de construção civil de natureza familiar, como sócio e
gerente.
Sem
pretender auto elogiar-se, como sublinha, reconhece que tinha um ascendente
cultural sobre os colegas da Junta, que lhe adivinha de um maior conhecimento
do mundo e contacto com governantes. Quando era necessário fazer intervenções
políticas de maior responsabilidade, como discursos, o Presidente da Junta de
Freguesia encarregava-o de o representar. Nesses momentos, Castelhano nunca se
arrogou a louros que não lhe competiam, apresentando sempre o Presidente, como
o primeiro e principal responsável pela gestão dos assuntos da Freguesia.
A
visita do Ministro da Educação, Veiga Simão à Benedita, foi combinada entre si
e Tarcísio Trindade. O Prof. Veiga Simão, fez uma visita ao Concelho de
Alcobaça, tendo almoçado no Refeitório do Mosteiro, uma tradicional Lagosta
Suada. Tão preocupado estava com o discurso que teria que fazer a Caetano, que
Castelhano nem apreciou o pitéu. Veiga Simão, tomou contacto com a realidade
sócio-económica da terra, a obra do Externato, e a pedido da Direção criou o
Ciclo Preparatório da Benedita. Estes estudos já eram ministrados no Externato,
mas pagos pelos alunos/cooperantes não pelo Estado, o que veio a acontecer a
partir daí. Como o Externato tinha dificuldades económicas e uma dívida
pendente de 300 contos, Veiga Simão assumiu o encargo.
Mas verdadeira,
verdadeiramente importante, foi a visita de Marcelo Caetano. Voltemos ao tema.
Certo dia, o Governador Civil de Leiria, numa das conversas e reuniões que
tinham com frequência em Leira, perguntou a Castelhano, como quem não dá grande
importância: Oh amigo Manel, vc. gostaria
que o Senhor Presidente do Conselho (Marcelo Caetano) visitasse a Benedita?
Perante
isto, Castelhano ficou como que meio atordoado e respondeu, que isso era a melhor coisa que nos poderia
acontecer.
Assim,
logo que Castelhano regressou à Benedita, a primeira coisa que fez, foi falar
com os colegas da Junta, dando-lhes conhecimento da hipótese, tendo sido de
imediato encarregado de, junto do Governo Civil, organizar os pormenores.
Passado algum tempo, o Governador Civil convidou-o e à Junta a irem a Lisboa,
fazer pessoalmente o convite a Caetano, o que aconteceu na sua casa, na zona de
Alvalade, situada por trás da Igreja de S. João de Brito. Recebidos no alpendre
da moradia, pois Caetano na altura ia a sair (obviamente de chapéu que nunca
dispensava), Damasceno de Campos, apresentou-os: Senhor Presidente trago aqui a Junta de Freguesia mais dinâmica do meu
Distrito, que o vem convidar para fazer uma visita à sua terra. Caetano,
com um sorriso aparentemente tímido, disse que tenho muito gosto, tenho muito gosto. Temos então que começar a preparar os pormenores.
Entre
o convite a Caetano e a sua deslocação à Benedita, decorreram cerca de dois
meses. Castelhano reconhece hoje que na altura, houve uma certa inconsciência no convite, do que seria
receber em visita o Presidente do Conselho, bem como não se apercebeu da
importância que isso iria ter no futuro próximo da terra. Tendo em conta que,
há algum tempo a Junta de Freguesia tinha decidido mandar fazer um medalhão em bronze
com a efígie de Caetano, para colocar num espaço nobre, foi decidido acelerar o
projeto, junto da escultora lisboeta Stela Albuquerque. A visita de Caetano foi
apoteótica, afirmação sem exagero, conforme registos que sobreviveram e
depoimentos que recolhemos. O discurso de boas vindas do Presidente da Junta de
Freguesia a Caetano, foi preparado em conjunto por Manuel Castelhano e
Gonçalves Sapinho, além do próprio Presidente da Junta, António Marques.
Foi
nessa altura que Caetano proferiu aquela que ficou como a grande imagem de
marca da deslocação e é recordada ainda hoje: depois de ver esta grande realidade, eu digo que a Benedita deve ser
apontada como um exemplo ao País.
Entre
as visitas de Veiga Simão e Marcelo Caetano, ali se deslocaram os Ministros Rui
Sanches, Baltasar Rebelo de Sousa e Silva Cunha, bem como variados Secretários
de Estado. A Benedita passou a estar no mapa. Castelhano diz que quando o
Governador Civil de Leiria, daí em diante, queria exemplificar o progresso do
Distrito, servia-se do exemplo da Benedita, fazendo convites a governantes para
a visitar.
Depois
do 25 de bril, um grupo minoritário, tentou apagar momentos da história da
Benedita, eliminando referências, como retirando o padrão onde estava colocado
o medalhão com a efígie de Caetano ou partindo a placa da Rua Heróis do
Ultramar. Esta placa, depois de alguns mimos e cenas chocantes, voltou a ser
posta no lugar que ainda ocupa, embora não mais o medalhão de Caetano, que se
encontra à guarda da Junta de Freguesia.
Em 21
de outubro de 1973 foi inaugurada pelo Governador Civil de Leiria, um Padrão comemorativo
da visita de Caetano à Benedita, aonde fora colocada a sua efígie, bem como um
Parque Infantil, construído voluntariamente pelos rapazes da Casa Pia. Em janeiro
de 1974, a
Câmara Municipal de Alcobaça deliberou, por aclamação, agraciar Damasceno de
Campos, com a Medalha de Ouro do Município, dado haver cessado funções, como
Governador Civil. Pela mesma altura, foi decidido atribuir o nome de Damasceno
de Campos, à praça na Benedita aonde se encontrava implantado o padrão alusivo
à visita de Caetano.
A
Medalha de Ouro, de autoria de José Aurélio, anteriormente apenas fora
atribuída a Marcelo Caetano, Presidente do Conselho de Ministros, Rui Sanches,
Ministro das Obras Públicas, e a Veiga Simão, Ministro da Educação. A
cerimónia, realizou-se no Salão Nobre do Governo Civil, encontrando-se
presentes os principais dignitários do regime no concelho de Alcobaça, com
destaque para um grupo da Benedita.
Pela
mesma altura, na sede da ANP, em Lisboa,, tomaram posse os novos dirigentes
distritais de Leiria, sendo o nomeado Presidente, o Engº, Lemos Proença e vogal
o Dr. Amílcar Pereira de Magalhães, até então Presidente da Comissão Concelhia
de Alcobaça. Foi o antigo Presidente da Câmara Municipal, Joaquim Augusto de
Carvalho, acabado de ser eleito Provedor da Misericórdia, que assumiu as
funções de Presidente da Comissão Concelhia da ANP Também, por esta altura, junho
de 1973, o alcobacense Dr. António Sanches Branco tomou posse do cargo de
Governador Civil da Horta, lugar que manteve até ao 25 de abril.
NOTA-cfr. o nosso, NO TEMPO DE
SALAZAR, CAETANO E OUTROS
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